A cúpula da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios decidiu convocar para depor, no início de março, o ex-assessor especial da Casa Civil Marcelo Sereno para explicar as relações dele com corretoras e dirigentes de fundos de pensão. A um mês da apresentação do relatório final, os integrantes da CPI pretendem também ouvir os depoimentos do publicitário Duda Mendonça e do ex-dono da corretora Guaranhus, Lúcio Bolonha Funaro. A empresa teria sido usada pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza para repassar cerca de R$ 7 milhões ao PL do ex-deputado Valdemar da Costa Neto (SP).
A agenda elaborada pela CPI prevê o depoimento de Sereno entre os dias 7 e 9. Nos dois primeiros anos de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Sereno foi braço direito do ex-ministro e ex-deputado José Dirceu (PT-SP). Em depoimento na semana passada à CPI, Murilo de Almeida Rego, filho de Haroldo de Almeida Rego, conhecido como "Haroldo Pororoca", afirmou que é amigo de Sereno. Antes, Christian de Almeida Rego, irmão de Murilo de Almeida Rego, havia confirmado à comissão ter relações pessoais com o ex-assessor da Casa Civil.
"Haroldo Pororoca" e os filhos são suspeitos de terem feito operações fraudulentas com fundos patrocinados por estatais. A CPI investiga se o esquema que seria operado por "Haroldo Pororoca" e o grupo dele tem algum envolvimento com Sereno. A comissão quebrou os sigilos bancário, fiscal e telefônico de 14 fundos de estatais e cerca de 30 corretoras de valores, além de uma série de pessoas físicas. Já descobriu operações financeiras que se desdobraram em prejuízos de R$ 729 milhões às fundações só na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F)
Apontado como doleiro e considerado operador do ex-tesoureiro do PSDB Ricardo Sérgio, Funaro comprometeu-se a comparecer à CPI na primeira semana de março. Ele faltou por três vezes aos depoimentos marcados. O sub-relator de Fundos de Pensão da comissão, deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), avisou que pedirá o indiciamento de Funaro ao Ministério Público (MP). De acordo com as investigações da comissão, o doleiro teria dado prejuízo de R$ 100 milhões a fundos de pensão.
O depoimento de Duda Mendonça só será marcado depois que a cúpula da CPI tiver acesso aos dados com a quebra do sigilo bancário e fiscal das contas do publicitário no exterior. A cúpula da comissão aguarda a autorização da Justiça norte-americana para analisar a papelada com a quebra de sigilo, que está em poder do Ministério da Justiça e do MP. Em agosto, Duda Mendonça depôs na CPI e confessou ter recebido R$ 10,5 milhões em uma conta nas Bahamas, chamada Dusseldorf, como parte do pagamento pela campanha nacional do PT de 2002.
