É princípio democrático inamovível que todo cidadão deve ser considerado inocente, até prova em contrário. Mas uma coisa é o princípio e outra é o fato. E o fato é que nos dias de hoje há a presunção de que todos os nossos políticos são culpados, salvo prova cabal, clara, irrefutável de sua inocência. Culpa de quem? Daqueles que, em tão grande número, usam os cargos aos quais foram alçados em proveito próprio e de terceiros. E o fazem praticando atos antiéticos e até crimes. Assim, levam a opinião pública a uma generalização inconveniente. É autodefesa. Afinal de contas, as vítimas finais de todos esses ilícitos é o povo. Aqueles que pagam a conta e ainda têm sonegados serviços que o poder público deveria pôr à sua disposição. Mas não há dinheiro suficiente para encher os bolsos dos malandros e ao mesmo tempo disponibilizar serviços de saúde, educação, transportes e o que mais qualquer cidadão espera do seu governo. E mais espera quando esse governo é tão ávido de dinheiro que tira dos cidadãos cerca de um terço do que ganham com o suor de seus rostos.

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No momento, o assunto do dia são as operações da Polícia Federal. Das investigações não escapou nem um irmão do presidente da República nem um seu compadre. E surge, em seguida, a suspeita de que o presidente do Senado, Renan Calheiros, também situacionista, pertencente aos quadros do PMDB, estaria pagando uma pensão para uma filha havida fora do casamento com dinheiro oriundo de uma empreiteira.

Há um ditado: ?Dize-me com quem andas e te direi quem és?. Tanto no caso do irmão de Lula e de seu compadre, como no do senador seu apoiante e presidente do Senado Federal, valeria que tivessem seguido o ditado. Mas nos dois governos, o atual e o passado, em que o PT e uma porção de outras siglas passaram a compartir o governo, tem havido uma enorme confusão entre o que é público e o que é privado. Não só na formação de círculos de amizade, sociedade ou cumplicidade, como também na mistura do dinheiro particular com o público. Geralmente o público é que é anexado ao particular.

Estranha, embora não seja nenhum crime, que o presidente do Senado Federal seja íntimo amigo do lobista apontado como o pagador das pensões para a mãe de sua filha. Estranha também que dentre os quase cem presos pela Polícia Federal estejam corriolas de amigos formadas não só por políticos proeminentes como por compadres, lobistas e até funcionários de prefeituras do PT cuja culpabilidade está praticamente provada. Gente que esteve em campanha lado a lado com os bem-intencionados e puros políticos que buscavam o poder para, supõe-se, servir ao povo brasileiro.

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Mas tudo tem de ser provado e nada ainda está provado.

Renan encima as manchetes porque a Comissão de Ética do Senado decidiu levar em frente as investigações sobre se usou ou não dinheiro de uma empreiteira para pagar contas particulares que resultaram de uma aventura ou ventura amorosa. Este indiciamento não significa que o homem é de fato culpado, embora desde logo a opinião pública esteja com um pé atrás. Ele até se dignou em apresentar defesa prévia verbal e documental. E o lobista endossou sua negativa de autoria. Portanto, vamos esperar para ver, sem crucificar o chefe do Congresso brasileiro. Precisamos catar, lá no fundo, o que ainda reste de confiança nos nossos homens públicos. Senão, é melhor fechar para balanço.

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