Culpa in eligendo

Existe na ciência do Direito o que se denomina “culpa in eligendo”. Colocando em miúdos: quando alguém pratica um delito, irregularidade ou o que mais seja reprovável, dentro de uma organização, a sua culpa se transmite a quem o nomeou, escolheu ou o elegeu para as funções que lhe permitiram agir contrariamente às leis ou outras normas. Exemplo: o balconista malandro que tapeia o cliente, superfaturando uma mercadoria para ficar com a diferença, é por isso responsável. Mas o dono da loja também é responsável, pois ninguém mandou contratar malandro. São muitos os casos e podem ser enquadrados em muitas organizações, inclusive políticas. Certamente existem definições mais precisas dessa culpa que pega, se transmite. Há um ditado popular: “Diz-me com quem andas e te direi quem és”. Aponta um caminho para evidenciar a fama de alguém. Quem só anda com malandros, muito provavelmente malandro é. Quem só se cerca de pessoas honestas, presume-se que também o seja. E daí por diante.

O que temos assistido nesta campanha eleitoral, e não foi diferente em outras, embora agora surjam mais denúncias, é que alguns candidatos se cercam de pessoas de idoneidade duvidosa. Ou induvidosa inidoneidade. E são, em geral, pessoas filiadas a partidos políticos e até detentoras de cargos de confiança ou eletivos. Há os que são acusados de ter no passado arrecadado dinheiro para campanhas eleitorais de forma ilegal e talvez até tenham embolsado parte da bolada. Há os que são formalmente acusados na Justiça por extorsão para fazer caixa para o próprio bolso e para a campanha de seu partido político. Há políticos eleitos comandando campanha eleitoral de candidato a presidente da República que ainda têm o rabo preso no maior escândalo que o Brasil já assistiu na política, o caso Fernando Collor/PC Faria.

Vivemos numa democracia, mas temos dito, neste espaço, que embora ela tenha o instrumental para funcionar, muito ainda tem que evoluir e se aperfeiçoar para garantir os direitos dos cidadãos e impedir a impunidade. E o uso da política por malandros, em proveito próprio ou de seus grupos particulares.

O uso da “culpa in eligendo” pode ajudar, em muito, essa evolução e aperfeiçoamento do regime democrático. Os prefeitos que nomeiam vigaristas para cargos em comissão deveriam, como aqueles, ser punidos. Quem manda nomear vigaristas para cuidar dos interesses do povo? O mesmo para os governadores, para o presidente da República e outras autoridades nomeantes.

Os partidos políticos, que submetem ao voto popular e divulgam como bons candidatos pessoas de currículo duvidoso, deveriam ser responsabilizados. É de sua obrigação oferecer aos eleitores uma relação de homens de bem, competentes e representativos, para serem sufragados nas urnas. Um partido político não pode ser uma gangue. Nem abrigar gangues ou delinqüentes.

O mesmo se pode dizer dos candidatos que formam, ao seu redor, equipes para tocar suas campanhas. Devem cercar-se de pessoas acima de quaisquer suspeitas, selecionadas, pois elas irão movimentar recursos, contatar com o público, com os meios de comunicação, enfim, trabalhar para eleger quem os arregimentou. Se não o fazem, escolhendo de olhos fechados, sem as devidas cautelas, ou apenas considerando escusáveis os pecados que não ferem seus interesses, devem ser responsabilizados se algo de ilícito ou imoral for descoberto.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo