Cuidado com os números!

A taxa de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do Brasil caiu para 11,7% da população economicamente ativa em junho. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Em maio, a taxa recuou para 12,2% e em abril bateu o recorde de 13,1%. O número de desempregados passou de 2,6 milhões de pessoas em maio para 2,5 milhões em junho. O ganho médio do trabalhador também subiu. Estava em R$ 886,60 em junho, um aumento de 1,8% sobre o mês anterior. Também aumentou o número total dos trabalhadores com carteira assinada, que subiu 3,2% em relação não a maio, como os demais índices em alta agora revelados, mas em relação a junho do ano passado. É aquele jogo, a que nos temos referido, de fazer crer que uma notícia pode ser boa, conforme a manipulação que se faça dos índices. Se são comparados índices de agora, mesmo que ruins, com índices péssimos de algum tempo escolhido no passado, betemos palmas. Se a comparação se faz com outro índice, às vezes colhido em tempo mais próximo, pode ser que a coisa até tenha piorado.

A notícia é boa. Indica crescimento, mesmo que microscópico e longe de atender às necessidades da nação. Pode ser sinal de retomada do desenvolvimento e é o que afirma o governo.

Trata-se de uma pesquisa limitada no espaço, já que abrange apenas algumas regiões metropolitanas. E limitada porque considera só a PEA (População Economicamente Ativa), deixando de fora os que procuram o primeiro emprego, os que nunca trabalharam e passaram a necessitar de empregos (geralmente esposas que sentem necessidade de complementar o orçamento doméstico) e quem não tinha posto de trabalho com carteira assinada.

Depois de fechar o ano de 2003 com retração de 0,2%, o Produto Interno Bruto, conjunto de riquezas produzidas pelo País, cresceu 1,6% no primeiro trimestre deste ano em relação ao último trimestre do ano passado. A economia teve expansão de 2,7% em comparação com o mesmo trimestre do ano passado. Olhando-se os últimos doze meses, entretanto, verifica-se que há estagnação econômica em comparação com os quatro trimestres imediatamente anteriores. O crescimento do primeiro trimestre, de 2,7%, apenas compensou as quedas registradas nos três trimestres anteriores.

Estamos crescendo, mas pouco e de forma insuficiente para as nossas necessidades. O nosso crescimento é um dos menores entre os países ditos emergentes. Perdemos até para a Argentina, que esteve muito próxima da falência. Em artigo publicado pela prestigiosa revista Financial Times, de Londres, a análise é que o desemprego e a renda baixa, no Brasil, freiam a recuperação do País.

Estamos crescendo. Pouco, mas parece que continuamente, embora sujeitos a intempéries. Não estamos preparados para qualquer crise internacional nem para crises internas. Não temos uma posição sólida. Se consolida a passos de tartaruga. Os investimentos diretos ainda são pequenos, principalmente os externos, e o nosso endividamento cresce.

O artigo do jornal londrino destaca a baixa renda como responsável pelo pequeno crescimento ou mesmo queda da nossa economia. E, aí, há evidência. Se o povo ganha mal, compra pouco e investe nada ou quase nada. E mesmo os índices de aumento nas vendas do comércio e da indústria são tão pequenos que não revelam um crescimento sustentado. É hora de descobrir que aqui as coisas não são caras. O povo é que ganha pouco e, se assim continuar, o País vai ficar patinando no subdesenvolvimento.

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