Cruzes brancas, com nomes, fincadas nos canteiros centrais de duas das principais avenidas de Ribeirão Preto, simbolizaram as mortes de 18 trabalhadores nos canaviais paulistas nos últimos anos, denunciadas pela Pastoral do Migrante de Guariba. A última delas ocorreu na quarta-feira (28), em Guariba, quando José Pereira Martins, que completaria 52 anos no próximo dia 2, sofreu um enfarte agudo do miocárdio. Essa morte, a primeira do ano nos canaviais, é mais uma investigada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), da 15ª Região. A homenagem às vítimas da lavoura canavieira aconteceu durante a campanha "Basta de Queimadas! Queremos respirar", na manhã de hoje, realizada por sete entidades ecológicas, humanitárias e trabalhistas.
"As pessoas aceitam e aderem à campanha, que é realizada uma vez por ano, sempre no começo da safra de cana-de-açúcar", disse a diretora da Associação Cultural e Ecológica Pau-Brasil, Simone Kandratavicius. "As pessoas estão revoltadas com as queimadas", emendou ela, enquanto distribuía panfletos e adesivos (5 mil cada) num semáforo, num dos cinco pontos de cruzamentos entre as avenidas Nove de Julho, Presidente Vargas e Independência. O manifesto começou às 8h30 e terminou por volta das 12 horas, quando diminuiu o fluxo de veículos.
Muitos motoristas autorizaram as colagens dos adesivos nos veículos ou, na pressa, levaram para fixarem depois. O arquiteto Oscar Eustáchio Silva Mendes estava caminhando no canteiro central da avenida Nove de Julho e as cruzes simbolizando as mortes dos trabalhadores rurais chamaram a sua atenção. "Sou contra as queimadas e a favor desse tipo de manifestação", enfatizou ele. A cruz simbolizando a morte de Martins chamou a sua atenção. "É de Guariba, né? Vi a notícia pela imprensa", lembrou ele. "É um problema geral e a morte dele (Martins) é a conseqüência de um processo de produção excessiva, capitalista, do aumento do calor global", lamentou Mendes, sobre a situação dos bóias-frias nos canaviais. "As empresas não qualificam os funcionários mais velhos como ele (Martins), que vão para o corte de cana e morrem.
Cerca de 35 pessoas de sete entidades – além da Pau-Brasil, foram representadas a Pastoral Operária, a Pastoral da Terra, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra (MST), o Seminário Gramsci, a Associação Humanística de Ribeirão Preto e o Centro de Direitos Humanos Irineu de Morais – participaram da campanha. A maioria dos manifestantes vestia roupas pretas (um deles trajava uma que parece uma batina), com faixas, cartazes e distribuição de jornais. Até um megafone foi usado para alertar os motoristas e transeuntes sobre os motivos da campanha contra as queimadas (poluição, doenças, desemprego, explorações) e das cruzes que simbolizam as 18 mortes de bóias-frias nos canaviais.