Cruzamento de CPI dos Correios chega à mulher de Janene

O cruzamento que a CPI dos Correios faz entre funcionários da Câmara dos Deputados e pessoas que estão na movimentação financeira do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza chegou à mulher do líder do PP na Câmara, José Janene (PR), Stael Fernanda Rodrigues Lima Janene. Os técnicos ainda estão fechando o valor total dos repasses, mas os parlamentares da CPI dizem que Stael é um dos novos nomes de beneficiários do valerioduto que começam a surgir desde que a CPI recebeu a lista de todos os contratados da Câmara nos últimos cinco anos. Os nomes estão sendo comparados com pessoas que aparecem na quebra de sigilo bancário de Marcos Valério e suas empresas, principalmente no Banco Rural.

Segundo o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), os assessores, sejam parentes ou não dos deputados, eram usados para receber dinheiro do valerioduto sem envolver diretamente os parlamentares. O cruzamento dos assessores com os beneficiários do valerioduto tenta buscar os parlamentares que seriam o destino final do dinheiro entregue a líderes e presidentes de partidos. Com isso, Serraglio espera avançar nas provas da existência do mensalão, um pagamento regular – não necessariamente mensal – a deputados da base aliada, em troca de votação de matérias de interesse do governo e de reforço nas bancadas governistas.

Segundo Marcos Valério, Janene recebeu R$ 4,1 milhões do caixa 2, entregues ao assessor João Cláudio Genu. Este valor vai subir, quando os técnicos descobrirem quanto foi transferido para Stael. Janene responde a processo de cassação de mandato no Conselho de Ética, mas está afastado da Câmara por problemas de saúde. O deputado diz que o valor recebido de Marcos Valério é menor e que foi usado para pagar advogados de defesa do deputado Ronivon Santiago (AC), que acabou perdendo o mandato. Janene não foi localizado ontem até o fechamento desta edição.

O PL recebeu do valerioduto R$ 10 milhões, entregues ao presidente do partido, Waldemar Costa Neto. No caso do PMDB, foi o líder José Borba quem recebeu R$ 1,9 milhão. Segundo Serraglio do total de R$ 55,4 milhões que o empresário diz ter repassado ilegalmente a políticos e às campanhas do PT e de aliados, falta descobrir os beneficiários finais de R$ 20 milhões. Os beneficiários diretos foram, entre outros, Duda Mendonça, marqueteiro da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que recebeu R$ 10,5 milhões do caixa 2 de Marcos Valério em uma conta nas Bahamas. Não houve declaração do pagamento nem à Justiça Eleitoral nem à Receita Federal.

Janene está em licença médica, Costa Neto e Borba renunciaram aos mandatos. "A nosso ver, o âmbito dos beneficiados está dentro dos partidos denunciados. Com os líderes renunciando, eles de certa forma protegem outros parlamentares. E os parlamentares não deixaram rastros", disse o relator hoje.

Os técnicos rastreiam também a ligação de uma secretária de Janene, Rosa Alice Valente, com as contas de Marcos Valério. A CPI já sabia que ela recebeu, entre maio e julho de 2004, R$ 154 mil, da corretora Bônus Banval, responsável por repasses ao PP no esquema de caixa 2 de Marcos Valério. A CPI investiga se a secretária recebeu dinheiro diretamente do empresário, por meio de uma de suas agências de publicidade.

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