Segmentos do Congresso Nacional iniciaram uma cruzada que vai contra a evolução da sociedade e das novas famílias que existem e não podem ser ignoradas. Comandados por um grupo de religiosos, principalmente evangélicos, alguns de nossos parlamentares estão realizando protestos contra a aprovação do projeto que criminaliza a homofobia e a discriminação contra homossexuais no País.

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Mas alguns outros dados confirmam o que todos nós sabemos: um assunto polêmico como esse traz grandes contradições. A sociedade quer evoluir, mas parte dela teme aceitar determinadas transformações e outra parcela luta contra isso de forma veemente, por intolerância e preconceito.

Por um lado legisladores estudam a viabilidade de se aprovar um projeto de lei que criminaliza a homofobia. De outro, estão os representantes do Senado fazendo manifestações contra o projeto de lei, alegando que ela irá ferir preceitos religiosos. E para ouvir a população acerca do tema, o Senado realizou pesquisa através do DataSenado, cujo resultado, divulgado recentemente, revelou que 70% dos entrevistados querem que atos de discriminação ou preconceito contra homossexuais se tornem crime, como prevê o Projeto de Lei Complementar n.º 122/2006. Foram ouvidas 1.120 pessoas de todo o País. A elevada aprovação ao projeto se repete em quase todos os segmentos, com pouca variação segundo região, sexo e idade. Ou seja, não aprovar este projeto é caminhar contra a voz dos seus próprios eleitores.

Atualmente, o projeto de lei está em discussão na CAS (Comissão de Assuntos Sociais) do Senado, sem previsão de entrar na pauta de votações do plenário. Mas pelo que vem sendo noticiado e visto no Congresso Nacional será uma grande batalha.

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As bancadas do Senado formadas por grupos religiosos lutam contra os interesses de grande parcela da sociedade baseados em preceitos de sua religião, incentivando, de certa forma, a discriminação e a homofobia em relação ao segmento GLBTT.

A intolerância deve ser freada. O texto atual do projeto, de autoria da ex-deputada Iara Bernardi (PT-SP), já foi aprovado na Câmara no ano passado e tramita no Senado e considera crime o preconceito de gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero.

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Trava-se a luta que persiste desde os primórdios da civilização envolvendo princípios religiosos e políticos. A política e a religião andam lado a lado, muitas vezes em duelos onde forças são medidas, porém, muitas vezes, ignorando os anseios da própria sociedade que representam. Mas não podemos esquecer que nosso país é laico e que nossa Constituição Federal, no seu artigo 5.º, garante a todos o direito à igualdade, dignidade e privacidade. Esses pilares que deveriam nortear e amparar todos os cidadãos, não são obedecidos plenamente no momento em que se permite discriminar determinados grupos. Um desses grupos é o formado por indivíduos que pertencem ao segmento GLBTT, que apesar de marginalizados pelo próprio Estado, lutam, baseando a busca por seus direitos nos princípios constitucionais, inclusive nos casos de ações indenizatórias pela prática de atos discriminatórios.

O Legislativo deveria estar acima de quaisquer preceitos religiosos, exercendo sua primordial função de proteger a todos, mesmo que isso signifique aprovar projeto de lei criminalizando a homofobia, tão rejeitado pelos religiosos. Já se permitiu a inclusão no texto da lei Maria da Penha a proteção abrangendo todas as mulheres, independentemente de sua orientação sexual, contra a violência doméstica. É um avanço incontestável, mas precisamos mais do que isso.

Os representantes do povo que integram bancadas religiosas manifestam-se contrários ao projeto de lei sob a alegação de que a homossexualidade vai contra todos os princípios de todas e quaisquer religiões. E mais. Que com a aprovação da lei estarão impedidos de expressar seu pensamento, que deveria ser livre, ao condenar a orientação sexual diferente da heterossexual. Em suma, são contrários porque não poderiam mais discriminar.

A comunidade GLBTT sabe da urgência de aprovação de leis que protejam seus integrantes, incluindo-se aí o projeto de lei que regulamenta a ?união estável? entre pessoas do mesmo sexo, parado há mais de uma década, exigindo, portanto, atualizações em seu texto.

A segurança da sociedade e das novas famílias deve estar acima de pensamentos retrógrados. Nossos representantes podem e devem acompanhar a evolução da sociedade ao legislar. Só com atitudes dessa natureza conseguiremos iniciar a transformação de um quadro trágico, onde homossexuais e transexuais são mortos ou agredidos diariamente apenas em função de uma orientação sexual não heterossexual. Precisamos mais do que leis para demonstrar e convencer os preconceituosos de que não se pode negar seja a quem for o direito à igualdade. Algo deve dar início a esse processo e, no caso, essa tarefa cabe ao Legislativo, que deve ter a coragem necessária para proteger aqueles que são insistentemente marginalizados.

Sylvia Maria Mendonça do Amaral é advogada especialista em Direito de Família e Sucessões do escritório Mendonça do Amaral Advocacia, autora do livro ?Manual Prático dos Direitos de Homossexuais e Transexuais? e editora do site Amor Legal. sylvia@smma.adv.br