As autoridades ligadas ao sistema de produção e distribuição de energia elétrica no País aparentemente não estão assustadas com a probabilidade real da crise de abastecimento no início da próxima década. Há quem admita, com base no quadro atual, que o apagão elétrico começará a se insinuar já em 2008.
O enunciado se fortalece ante a decisão tomada pelo governo de adiar pela quarta vez o leilão da primeira usina do Rio Madeira, no Estado de Rondônia, com o que estará comprometido o início das operações da obra. O leilão foi transferido para 10 de dezembro, atendendo a uma série de ponderações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O Ministério de Minas e Energia tencionava realizar o leilão no dia 29 de novembro, mas houve necessidade de ajustes no custo da tarifa máxima da energia produzida pela usina Santo Antônio, inicialmente cotada entre R$ 131 e R$ 132 por megawatt-hora (MWh). A tarifa deverá sofrer um corte de R$ 5 por MWh, embora seja mantido o valor de referência de 13% recomendado pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
A operação que tornou possível a redução resultou da reavaliação da garantia física do empreendimento, considerando-se o volume constante de eletricidade que a usina terá condições de produzir. A usina Santo Antônio foi projetada com potência máxima de 3.150 MW, embora o governo trabalhasse com a hipótese de 2.150 MW médios como geração contínua de energia, mesmo nos períodos de déficit pluviométrico. Revisados os cálculos, a garantia física se elevou para 2.218 MW médios.
O governo acusou o golpe causado pelo atraso do leilão, que poderá sofrer ainda novos contratempos, à vista da exclusividade da Odebrecht com os fornecedores de turbinas e equipamentos para a obra. O contencioso foi parar na Justiça norte-americana, que negou pedido da empresa brasileira visando impedir que a General Electric viesse a fornecer equipamentos a grupos interessados em concorrer no leilão das demais usinas planejadas para o Rio Madeira.
Para o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, não é mais possível pensar em mudanças na data do leilão, sob pena de anular a meta estabelecida no cronograma original do início da operação comercial da hidrelétrica em 2012.
O último nó dessa corrida de obstáculos é a conquista pelo ganhador do leilão da licença de instalação concedida pelo Ibama, ou seja, a permissão propriamente dita para o começo das obras físicas.