A crônica desta semana começa com uma advertência. A você, leitor ou leitora persistente. Não sei se devido ao cansaço, ao frio do inverno ou ao acúmulo de situações de desencanto com a política, os governos e a educação, mas esta crônica estará envolta em casmurrices e rabugens. Uma outra causa para o tom deste texto pode estar na releitura que faço de Machado de Assis, responsável pelos dois adjetivos recém-citados e cheirando a naftalina. Ah, a literatura, uma escrita sempre como re-escrita!
Relembre, leitor ou leitora, o quanto aprendemos em cada dia e ao longo da vida: movimentos do corpo, sentimentos da alma, encantamentos do intelecto, procedimentos políticos e sociais. No centro de tudo isso a linguagem (cientistas afirmam e juram que é movendo tudo isso). Entre as aprendizagens, a responsabilidade pelo cultivo, utilização, plenificação dos efeitos, renovação e descobertas da linguagem. Entre as várias linguagens, estão as palavras, a língua que herdamos e deixaremos a quem nos suceder. Podemos, nesta rápida reflexão, concordar que professores, de qualquer área do conhecimento, foram treinados, orientados, capacitados a trabalhar com modos enriquecidos, sofisticados e especializados da linguagem verbal. Até reconhecemos que alguns deles se especializam em discursos específicos, como a literatura.
?Chegamos, enfim! Ufa!?, você descobre uma âncora de pensamento, quando se aprontava para desistir. Chegamos ao ponto, à pedra de toque deste texto.
Imagine neste momento professores que, com um repertório de conhecimentos do tamanho de uma noz, se eximem e se recusam a formar leitores. Muito mais grave, ainda, quando esses professores ensinam os colegas a desistir, a desanimar, a abandonar desde cedo quaisquer ideais de melhoria, de entusiasmo, de mudança. Em especial, quando se trata de projetos e atividades de estímulo à leitura na escola, pela adoção de motivações intensas e especiais.
Recebi recentemente, e em dose maior do que a habitual, as confissões de excelentes e dedicados ex-alunos que, nos embates concretos da vida profissional que mal inicia, se dizem solitários em sua cruzada de formação de leitores, abandonados por colegas mais velhos que, por sua vez, insistem em dizer e ensinam que atividades criativas, leituras entusiasmadas, promoção das belezas da literatura, de nada servem para alunos, que são ameaçadores e burros como portas. Além do mais, secundados por pais omissos.
Depois de anos de formação profissional e de alimentar a crença em mudanças, é lamentável que jovens professores sejam assim massacrados em seu entusiasmo. Aliás, esse substantivo inclui em sua etimologia a palavra grega teos, deus. Essa morte antecipada da crença no poder do magistério e da leitura, somente pode ser entendida como mais uma manifestação da apatia geral, do comodismo, da ignorância como mérito, que assola este país. A literatura vem, novamente, em meu socorro. Invoco Guimarães Rosa, nesse tempo educacional de crença imobilista em tecnologias, que não resolvem a motivação interna de nossos docentes: é um tempo em que ?o diabo [está] na rua, no meio do redemoinho?.