Nada a reclamar se temos um líder político falastrão, tanto mais se no seu palavrório predominam palavras conseqüentes. O presidente Lula é falastrão, no sentido de que fala muito, principalmente quando abandona o texto escrito que fizeram seus assessores e derrama sua verve à vontade, de forma franca, simples, quase sempre eloqüente. A menos que se tenha um presidente de ampla sabedoria e grande habilidade no manejo da língua, preferentemente a nossa, o melhor é que fale seguindo algum ?script?. É humano, quando se improvisa, dar alguma bola fora.
Pois foi o que aconteceu com o nosso ilustre presidente e não se há de atribuir a falha à sua falta de escolaridade. Ele já provou que não é preciso ter curso superior para ser um bom presidente. Há doutores que foram maus dirigentes e os não ilustrados apenas começam a ascender às posições de comando nacional para que se conclua que o melhor é não ser erudito, para permanecer coerente com as opiniões do povo e falar de forma que este sempre entenda.
Agora, entretanto, a bola fora de Lula nada tem a ver com o seu currículo escolar. Tem, sim, com sua posição sempre protetora em relação aos que lhe são próximos. Posição que foi capaz de (é a versão oficial) permitir que ao redor do presidente muitos roubassem e realizassem operações escusas, permanecendo acima de qualquer suspeita. Lula de nada sabia.
Lula criticou decisão da CPI dos Bingos de chamar para acareação seu chefe de gabinete, o paranaense Gilberto Carvalho, e o médico João Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado de Santo André (Grande São Paulo), Celso Daniel. O crime foi dado oficialmente como comum, mas existem fundadas suspeitas de que o prefeito assassinado foi vítima de um crime político. O próprio irmão da vítima, o médico João Francisco Daniel, levanta esta hipótese. E o chefe de gabinete de Lula aparece nas declarações feitas sobre uma gangue que extorquia dinheiro de empreiteiras a serviço da Prefeitura de Santo André, destinando-o para bolsos particulares e para o PT. Ou tudo para o PT.
A CPI pode e deve investigar o caso. Por estar batizada de CPI dos Bingos, não significa que o assunto fuja às suas atribuições, pois têm sido tantas as denúncias e tão abrangentes que no Congresso foi necessário unir em duas ou três comissões investigações às pencas. Referem-se a fatos correlatos, espera-se que os relatórios finais esclareçam.
Mas Lula não gostou e declarou aos jornalistas: ?Estou esperando a CPI chamar um bingueiro?. A propósito, ele prometeu há muito tempo e ainda não tomou iniciativas legais contra o bingo, que considerou crime hediondo como a exploração sexual de crianças. E tencionava, antes do escândalo dos bingos, regulamentar o jogo para obter dinheiro para o governo.
Coube ao próprio presidente flagrar seu bola fora. Falando sobre a perda de foco dos trabalhos desenvolvidos pela CPI dos Bingos, respondeu aos jornalistas: ?É preciso perguntar para deputados e senadores?. É isso aí. Não deve o chefe do Executivo meter-se no assunto, nem mesmo para proteger auxiliares e correligionários. É assunto do Congresso, outro poder, presumivelmente harmônico e independente em relação ao Executivo. E seu fiscal em nome do povo.