O candidato do PDT à Presidência, senador Cristovam Buarque (DF) ironizou nesta sexta-feira (22), em Fortaleza, a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disputa a reeleição pelo PT. Em entrevista à rádio CBN, Lula alegou ter sido mais uma vez vítima da traição de colegas petistas, no caso da compra do dossiê da Planam contra o candidato do PSDB ao Governo de São Paulo, José Serra. "Durante o período do mensalão, o presidente disse uma vez que não sabia e que foi traído. Mas caramba! Ele está sendo traído vezes demais! Ele está sendo traído a cada mês! Ele gosta de ser traído? Ele aceita ser traído ou ele é omisso nas traições?", questionou o candidato durante entrevista coletiva antes de ministrar uma palestra em um hotel de Fortaleza.
Cristovam disse que, mesmo Lula sendo eleito no primeiro turno – como indicam as pesquisas de intenção de voto -, as denúncias contra ele não vão morrer. "Vão continuar porque quem vota é o eleitor, mas quem apura as denúncias é a Polícia e a Justiça. E aí nós teríamos uma situação muito complicada", comentou o pedetista.
O candidato disse ainda temer pelas instituições democráticas caso o presidente seja eleito sob suspeição no escândalo da compra do dossiê. "Não tenho dúvida de que ele (Lula) caia nas tentações autoritárias, que ele mesmo reconheceu, na semana passada, carregar dentro dele", afirmou Cristovam. "Temo pelas instituições democráticas, como é caso de uma eleição majoritária, para um líder carismático que chega ao Congresso sem a maioria", insistiu.
Cristovam voltou a cobrar a saída de Ricardo Berzoini da presidência do PT. "Considero muito estranho que uma pessoa que não mereça ser coordenador de uma campanha e mereça ser presidente do partido do presidente". No lugar de Lula, o senador garantiu que, há muito tempo atrás, daria "exemplos nítidos de que não tolera atos ilícitos". E criticou os afastamentos promovidos por Lula de pessoas do governo envolvidos nos vários escândalos. "Ele afastou pedindo desculpas dando abraços. Afastou chamando de companheiro, de amigo", ironizou mais uma vez o candidato. "E não foi uma coisa sistemática, de exemplo, de clareza interna, dele próprio. Todas as saídas foram pressionadas pela imprensa", atacou.
"Essas coisas, quando acontece uma vez, não é culpa da direção, da chefia, da liderança. Mas, quando acontecem uma, duas, três, quatro, cinco fica difícil de explicar", cutucou ainda Cristovam. De acordo com ele, Lula precisa dizer o seguinte ao povo brasileiro: "Não vai mais acontecer no meu governo um fato desse e, se acontecer, eu peço demissão. Eu não mereço continuar no cargo".