O candidato do PDT à Presidência da República, senador Cristovam Buarque, disse hoje, durante sabatina com presidenciáveis, promovida pelo Grupo Estado, que deixou o PT porque o partido se acomodou, em grande parte, pelo "vício de ser governo" e diante da corrupção de alguns membros. Segundo ele, que foi militante histórico da sigla até o ano passado e ministro da Educação do governo atual, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é candidato à reeleição, já tomou o mesmo caminho de distanciamento.
"O PT é um partido acomodado e lá não tem lugar para mim. Se acomodou diante da corrupção de alguns deles (membros do partido). O PT se acomodou diante da realidade", destacou Cristovam Buarque. "O Lula já saiu, ele já não é do PT. Aliás, ele vai gostar disso porque isso, talvez, dê mais voto para ele, tanto que ele não está botando nem estrela e nem cor", afirmou, numa referência ao fato de a propaganda eleitoral gratuita em TV do adversário petista ter praticamente retirado as referências da sigla, como a estrela e a cor vermelha, dos primeiros programas exibidos nesta semana.
Segundo o candidato do PDT, há possibilidade, inclusive, de, futuramente, o PT não ter o mesmo papel que exerce atualmente no governo Lula e que o presidente diga que publicamente que não pertence mais à legenda. "Acho que, nos próximos meses, um ano ou dois, o Lula vai se distanciar tanto que o PT vai deixar de estar lá dentro (do governo). E aí é que virá o grande momento: o PT vai aceitar isso e continuar acomodado, sem estar no governo", destacou.
Quanto ao eleitorado, ele destacou que a população não vota atualmente por partido, mas sim no candidato e que isso trará conseqüências ao Congresso. "Os que votam no Lula, vão continuar votando e os que não votam, continuarão não votando", opinou. "O Lula não vai pagar o ônus de ser do PT atual. E o PT vai pagar sozinho. Aí, o PT vai ter poucos parlamentares e o Lula vai ter que cair nos braços dos outros partidos, necessariamente, virando um presidente que não é do PT. Porque ao redor dele o poder não será do PT, será do PMDB, provavelmente", explicou.
Cristovam afirmou também que teme que o próximo Congresso seja pior do que o atual. "Não sei se será pior ou melhor, mas se for pior, o Brasil estará se desfazendo", disse. "Se o Congresso não for capaz de enfrentar este momento, teremos um futuro absolutamente incerto. Eu não sei o que vai ser do Brasil.
Dando a reeleição do presidente Lula praticamente como certa, Cristovam disse que Lula terá minoria no Congresso e estará cansado num segundo mandato, sem propostas e alternativas. Considerou que Lula se omite de muitas coisas e se distancia do próprio partido.
Questionado se estaria desanimado com a campanha eleitoral, Cristovam disse que sua causa vai além de 1.º de outubro. "Alguma coisa da minha caminhada, se eu não for eleito, vai ficar nem que as pessoas lembrem que teve um obsessivo pela educação, que tinha uma proposta e sabia o que fazer", disse.