É uma ilusão imaginar que a crise política, ou melhor, crise moral na política brasileira, deixa indene a nossa economia, principalmente suas relações com a economia globalizada, que associa capitais em todo o planeta. Que aqui os políticos (e empresários e funcionários) podem roubar e desviar recursos o quanto queiram que a economia seguirá seu curso. E esse curso, segundo a propaganda oficial, é ascendente, sadio, promissor.

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Quem tem dinheiro, sejam pessoas físicas, jurídicas, fundos de investimentos, empresas em geral e governos, busca entre as muitas opções de investimentos existentes no mundo, sítios seguros. Seguros e rentáveis. Podem, por vezes, aceitar uma certa dose de insegurança, desde que a rentabilidade seja alta o suficiente para compensar. Ou preferir a segurança à toda prova, abocanhando rendimentos mais modestos.

Inexistem, entretanto, aqueles que são tão loucos que rasgam dinheiro. Que aceitam aplicar em países onde se rouba a torto e a direito, não há segurança para os investimentos e a rentabilidade oferecida é tão elevada que denuncia uma fome por dinheiro que só pode estar escondendo inconfessáveis intenções.

O jornal britânico Financial Times afirma que os investidores demonstram ?temor à medida em que os escândalos crescem?. De início, o mercado acreditou que os escândalos não eram tão sérios ou estavam desaparecendo. ?Mas o número razoável de questões não resolvidas prolongou a crise?, na opinião de Marcelo Mesquita, estrategista do banco UBS do Rio de Janeiro. Ele não atentou para o fato de que as questões não só não estão resolvidas, como se multiplicam como ervas daninhas. Não há dia em que não surjam mais dois ou três escândalos e quatro ou cinco novos nomes são apontados como envolvidos.

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Para o jornal inglês, a crise na Bolsa de Valores de São Paulo levou o pregão a cair. Nos aventuraríamos a chamar isso de suposição, pois uma coisa é queda nas cotações bursáteis em razão de crises econômicas e outra é especulação, tendo como desculpa essas crises. Não raro os meios de divulgação falam em a bolsa brasileira acompanhar a de Wall Street por isso ou aquilo, quando na verdade a nossa economia, em se considerando as companhias brasileiras de capital aberto, é tão pequena que em nada influi ou é influenciada pelos índices da bolsa nova-iorquina ou outro grande mercado acionário do mundo.

O que aqui tem acontecido é especulação diante das manchetes de escândalos políticos.

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A crise econômica que revela roubalheira generalizada e lança sobre o governo e seus aliados dúvidas fundadas de prática de irregularidades, influi seriamente na nossa economia, pois faz com que os investidores se retraiam ou daqui fujam. E isso quando mais precisamos de investimentos para sair da crise econômica, que, se inexiste em termos de números brutos, é crucial em se tratando de perspectivas futuras e má distribuição de renda.

O ladrão que se descobre na política é responsável por roubar do pobre povo brasileiro e ainda impedir que investidores internos e lá de fora aqui apliquem seus investimentos. Ficamos pobres moral e materialmente. E eles cada vez mais ricos.