Crise deve impedir BC de mexer na Selic, diz Mendonça de Barros

O ex-Secretário de Política Econômica e atual diretor da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros, acredita que a crise política colaborará para que o Banco Central mantenha o conservadorismo na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorrerá em agosto. "O BC deverá manter a taxa estável no mês que vem. É mais provável que os juros cairão a partir de setembro. Com a contínua queda da inflação, se os juros ficarem estáveis até lá, em 19,75%, a taxa real atingirá 15%", disse.

Na avaliação do economista, a cautela do Banco Central levará a Selic para 18% no fim do ano, mesmo num cenário claro de queda da inflação. Isso representaria que o corte de juros até dezembro não passaria de 1,75 ponto porcentual. "Nesse contexto, a nossa previsão de crescimento do País para 2005, que já era de 2,8%, foi mantida e é bem realista para a atual conjuntura", disse. Para 2006, a MB Associados trabalha com uma expansão do produto interno bruto de 3,4%.

Para Mendonça de Barros, a tendência do câmbio até setembro é passar por intensa volatilidade, sobretudo causada pelos desdobramentos da crise política. "Estimo que a taxa variará entre R$ 2,35 e R$ 2,50 nos próximos dois meses", comentou.

"O nível não subirá muito porque há uma intenso ingresso de dólares no País, relacionado às exportações, que deverá proporcionar, na nossa avaliação, um superávit comercial de US$ 37 bilhões para este ano e um considerável saldo positivo de transações correntes", afirmou. O superávit comercial seria superior, então, ao de 2004, que ficou em US$ 33,6 bilhões.

De acordo com o ex-Secretário de Política Econômica, a crise política intensifica a desaceleração dos investimentos de companhias. Esse movimento, ressalta, começou em maio e naquela época era provocado basicamente pela forte política monetária adotada pelo BC desde setembro, quando os juros estavam em 16%.

"Existe um desestímulo na expansão dos investimentos que tem a participação da instabilidade política", comentou. "No caso de exportadores, por exemplo, o câmbio no atual nível e sujeito a volatilidade é desfavorável para quem pretende aplicar agora recursos em projetos empresariais que estarão concluídos em dois anos."

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