A crise financeira vai durar bastante tempo, vaticinou Dominique Strauss-Kahn, diretor geral do Fundo Monetário Internacional (FMI). Essas suas declarações foram o bastante para espalhar uma onda de medo nas bolsas de valores de todo o mundo, inclusive a brasileira, que despencou mais de 4%. Dominique Strauss-Kahn foi mais longe em seu vaticínio, dizendo que a crise que atinge o setor de financiamento imobiliário dos Estados Unidos terá ?graves conseqüências?. Como se sabe, os problemas de iliquidez nos negócios imobiliários nos EUA desencadearam um processo recessivo que tem exigido das autoridades norte-americanas medidas extremas, a última uma redução na taxa de redesconto bancário. Também foram reduzidas as taxas de juros e injetados no mercado bilhões de dólares. Tudo isso apenas arrefeceu a velocidade e o peso do rolo compressor da crise, mas não a estancou.
No Brasil, as autoridades, inclusive e principalmente o presidente Lula, têm declarado que estamos vacinados contra a crise. O presidente chegou a declarar que se tratava de assunto dos Estados Unidos e eles que resolvessem o seu problema. Algo como ?não temos nada com isso e que se virem?, como se fosse possível evitar que as ondas de efeito de um problema dessa ordem, na maior economia do mundo, pudesse não nos atingir.
O diretor geral do Fundo Monetário Internacional, com sua autoridade política e técnica e disponibilidade de conhecimentos dos movimentos financeiros em todo o mundo, não parece tão otimista. ?Há crises conjunturais como as que estamos vivendo – disse ele – que vão durar bastante, com graves conseqüências?. A sentença foi pronunciada em uma reunião organizada em Paris pelo FMI e pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre as reformas estruturais na Europa.
Dominique Strauss-Kahn não se limitou em alertar apenas os europeus nesse importante encontro. Para ele, os países emergentes também serão afetados pela crise financeira. Ela atinge, no momento, principalmente os Estados Unidos e os países desenvolvidos. Entre os países emergentes está o Brasil, com autoridades julgando-nos vacinados contra um mal que é global e que, mais cedo ou mais tarde, vai nos alcançar.
?Não há desconexão? entre países desenvolvidos e emergentes. Há sim um ?tempo diferente? na crise, explicou o diretor geral do FMI. Strauss-Kahn disse com todas as letras: ?Infelizmente, os países emergentes serão afetados?. As previsões de crescimento para tais países, formuladas pelo próprio FMI, já foram diminuídas de 0,75 a um ponto percentual.
O mesmo diagnóstico fez o mexicano Angel Gurría, secretário-geral da OCDE. Para ele, não há ?desconexão?, embora tenha considerado que os países da América Latina parecem ?melhor preparados? para enfrentar os problemas da economia mundial.
Estamos melhor preparados porque somos menos dependentes da economia dos Estados Unidos e temos uma bolha considerável no mercado interno, fruto do aumento do consumo resultante da oferta generosa de crédito. Uma situação com seus pontos positivos e negativos, como já comentamos neste espaço.
É bom, entretanto, que estejamos atentos. Que não dediquemos aplausos fáceis à despreocupação que pode estar sendo ditada pela inexperiência, pelo discurso anti-globalização em pontos que não se sustenta, como o mercado financeiro e, principalmente, ao discurso em ano eleitoral. Nestes períodos, a loquacidade toma o lugar da responsabilidade e a possibilidade de captação de votos muitas vezes leva à temeridade aqueles políticos que deveriam estar debruçados sobre os problemas reais. Problemas que muito provavelmente teremos, seja lá quem forem os detentores do poder no Brasil.