Quando candidatos, os políticos, ao prometerem criação de empregos, na verdade estão querendo é criar o próprio. O resto é para captar votos ou, no máximo, uma declaração de intenções. Sempre números redondos, enormes, desejados e impossíveis. Fernando Henrique Cardoso prometeu criar 8,9 milhões de empregos desde 89. No período, o crescimento do desemprego foi de 3,4 milhões. Lula, como todos os governos, firma um Plano Plurianual que vai até depois do final do atual mandato, ou seja, 2007. Na campanha, prometeu dez milhões de empregos, mas no plano, o que há de concreto, se bem que difícil, é criar dois milhões de empregos, restando um déficit de oito milhões. Para conseguir esse intento, bem-vindo, mesmo que enormemente menor do que o prometido, começa por abraçar a flexibilização da Consolidação das Leis do Trabalho, que combateu com unhas e dentes, com seu partido, no tempo de FHC.
Quer que a jornada de trabalho caia para 44 horas semanais, o que é permitido pela Constituição. Permitido, mas não sem baixar a remuneração dos trabalhadores, como reivindica o Plano Plurianual. Estima que, com essa providência, crie mais dois milhões de vagas. Os empregadores, por óbvio, estão contra. Não querem pagar horas não trabalhadas. Ficarão oito milhões de empregos a serem criados, sem contar com a redução da jornada de trabalho, o que criará algo muito estranho. Trabalhadores que trabalham mais e trabalhadores que trabalham menos, sem que haja nenhuma segurança de que aqueles terão melhores salários. E ficarão oito milhões de empregos a serem criados para pagar as promessas da campanha.
Aí, deve entrar o “milagre do desenvolvimento”, que já está bastante atrasado.
Não são poucos os que duvidam que ele aconteça, pois o quadro que se vê, neste primeiro ano de governo, é de recessão econômica. E, obviamente, de aumento do desemprego. Para inverter este quadro nada alentador, o governo busca baixar as taxas de juros, criar crédito barato para pequenos empreendimentos e pessoas pobres e sonha com um grande plano de construção de obras básicas para a economia. Aí, entrariam ferrovias, rodovias, portos, hidrovias, hidrelétricas, linhas de transmissão de energia e outras obras grandiosas, para os quais o governo não tem dinheiro.
A esperança está em conquistar a confiança, o dinheiro e a associação da iniciativa privada, o que Lula proclamou com todas as letras, para desgosto dos radicais, inclusive do seu partido.
Analistas independentes entendem que a iniciativa privada, seja a nacional ou a estrangeira, dificilmente entra nessa. Em primeiro lugar, porque não está tão capitalizada aqui e no resto do mundo. Em segundo, porque o Brasil teria de competir com outros países, também sedentos de investimentos. Finalmente, porque o modelo brasileiro, burocratizado, com ainda uma forte presença do Estado na economia, seja como empresário, seja como regulamentador, desagrada os investidores, que preferirão mercados mais abertos.
Estamos falando do difícil, mas não do impossível. As próprias dificuldades ensinam e o governo Lula vem evoluindo para adaptar-se às circunstâncias e imposições do mercado. A cada dia, cai por terra um preconceito ideológico para soerguer-se algo de concreto que possa significar crescimento econômico.
Os primeiros empregos, com o plano de redução da jornada de trabalho sem remuneração, poderão vir já no ano que vem. Os demais oito milhões, ao longo deste governo e ainda no próximo…