São Paulo – O mercado de trabalho deverá fechar este ano com um desempenho melhor que o do ano passado, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apurou a criação de 474 mil cargos nas 6 regiões metropolitanas analisadas. Não deve, porém, superar a marca de 646 mil ocupações de 2004. A análise é do economista para a área de mercado de trabalho do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo de Ávila, que vê em tal comportamento o resultado do um crescimento econômico "heterogêneo"l.
"No primeiro trimestre, tivemos crescimento do desemprego, algo sazonal, e podemos esperar alguma inflexão ou pelo menos forte desaceleração do desemprego a partir do segundo trimestre", disse Ávila à Agência Estado. "Ainda esperamos para 2006 uma taxa média de desemprego abaixo da encontrada no ano passado, de 9,8%, com a ocupação este ano devendo posicionar-se na banda de 474 mil cargos, vista em 2005, a 646 mil, registrada em 2004", acrescentou.
Segundo ele, as indicações deste início de ano posicionam o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) abaixo de 3% e, por isso, o mercado de trabalho ainda se comporta de forma errática, com comportamentos diferentes entre os diversos segmentos.
Em março, exemplifica o especialista, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada hoje (20) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), constatou a criação de 7 mil vagas em relação a fevereiro, resultado do desempenho positivo de indústria (12 mil cargos), construção (17 mil), saúde, educação e administração pública (50 mil) e outros serviços (4 mil), e da perda de dinamismo do comércio (-44 mil vagas), serviços domésticos (-18 mil) e serviços prestados a empresas (-14 mil).
"Os setores estão muito diferenciados e não há crescimento homogêneo", salienta, para justificar alguma desconfiança sobre o desempenho do mercado de trabalho em 2006.
Para efeito de comparação, o saldo foi positivo em 129 mil postos na comparação entre março e fevereiro no ano passado. Além disso, enquanto no primeiro trimestre de 2005 foram eliminadas 205 mil vagas, neste ano foram cortadas 310 mil vagas até março.
"Ressalvo que a base de empregados em 2005 era maior, pois havia um saldo forte remanescente de 2004, e o crescimento do primeiro trimestre de 2006 é menor do que o do ano passado. Mas é importante constatar que, apesar dessa ressalva, por enquanto a recuperação do emprego este ano está menos intensa", alerta o especialista.
Ávila aceita também a avaliação de que a melhora do nível de emprego pode ser esperada para o restante do ano por causa da indicação de a política monetária conduzida pelo Banco Central seguir em rota de queda de juros e, além disso, haver alguma desvalorização do real suficiente para manter o nível atual de exportações. Outro fator, segundo o especialista, é a expectativa de expansão dos investimentos públicos para este ano capazes de garantir aumento da ocupação.
Alerta o especialista, no entanto, que a relativamente comedida expansão do desemprego deste início de ano decorre principalmente da pequena elevação da População Economicamente Ativa (PEA) no período e não pela via da expansão da ocupação. "Em março, a PEA cresceu em 88 mil pessoas, enquanto em fevereiro cresceu em 109 mil. O dado é especialmente curioso porque março não teve nenhum feriado e a PEA deveria subir", salientou. "É bom para o mercado o pequeno crescimento da PEA porque tira pressão por geração de postos, mas não achamos que esse movimento de contenção da PEA durará por muito tempo." Por isso, é plausível a especulação de que o crescimento da PEA se dê exatamente no período estimado para haver a "inflexão" na curva de desemprego, o que poderá "amortizar" a queda do índice de desemprego, mesmo com expansão do contingente dos ocupados.
A estabilização da PEA, analisa o economista do Ipea, foi percebida mais fortemente no ano passado, quando o crescimento médio ficou em 1,1%, enquanto em 2004 a alta foi de 2,2%. "Como o rendimento médio do trabalhador parou de cair e até cresce um pouco, de forma gradual, pessoas que antes estavam no mercado de trabalho, principalmente aqueles membros secundários da família, param de procurar ocupação para retomar suas vidas, especialmente estudar", justifica Ávila.
Outro fenômeno a conter a expansão da PEA aceito pelo especialista, embora com intensidade menor, é o crescimento do volume de beneficiários de programas sociais dos governos, caso do Bolsa Família.