Crescimento econômico

A notícia é boa. Melhor do que isso, ótima. O Brasil cresceu 5,4% em 2007 e o Produto Interno Bruto per capita 4% acima da inflação, chegando a R$ 13,4 mil ao ano. Justos os aplausos que a economia privada e a política econômica do governo estão recebendo, pois este é o maior crescimento desde 2004, quando a alta do PIB foi de 5,7%.

As perspectivas futuras, entretanto, colocam alguns pontos de interrogação. Teme-se que sendo um crescimento impulsionado pelo aumento da demanda, possa causar inflação. Aliás, o Banco Central já cogita de mudança em sua política de fixação dos juros básicos, admitindo que possa elevá-los, depois de uma sucessão de reduções.

Seria bom que prestássemos atenção na exegese desse crescimento. Ele deu-se em razão do aumento do consumo e este, em razão da majoração da massa salarial e principalmente pela maior disponibilidade de crédito. O consumo no Brasil sempre esteve reprimido, mas a oferta de financiamentos por atacado levou a uma gastança sem precedentes.

Hoje, não há família que não esteja pensando em adquirir eletrodomésticos, um carro ou mesmo trocar o carro velho por um novo. Referimo-nos às famílias inseridas no mercado, pois há ainda uma parcela ponderável da população que está dele alijada.

Para provar isso, basta lembrar que a renda per capita chegou a R$ 13,4 mil ao ano, o que equivale a pouco mais de R$ 1.100,00 ao mês. Esse ganho está muito longe do valor do salário mínimo e infinitamente distante do que recebem os cerca de 16 milhões de brasileiros assistidos pelos programas sociais do governo.

Permanece grave o problema de distribuição de riqueza. Os resultados do crescimento econômico deixaram claro que, com a retração das exportações ante à desvalorização do dólar em relação ao real, a economia está se sustentando principalmente no mercado interno. E este é de consumo. Há investimentos de capital, mas visam a atender à demanda interna crescente.

Seria este o melhor modelo de crescimento para o Brasil? Cremos que não, embora nossas dúvidas não anulem os justos aplausos pelas vitórias conseguidas.

Há falta de investimentos na infra-estrutura do País e a poupança interna é mínima, quase nula. Os países que alcançaram um alto nível de crescimento econômico e se postam solidamente no lista das nações desenvolvidas apresentam uma alta taxa de poupança, aplicações consideráveis em infra-estrutura e capitais para aplicar em seus próprios territórios e em outros. Exemplo é a pequena Suíça, que é dona de algumas gigantescas multinacionais. Exemplos também os países nórdicos e a grande maioria dos que compõem o Mercado Comum Europeu.

O crescimento baseado no consumo é desejável, mas não garante o futuro, que só pode ser promissor se houver poupança e investimentos de longo prazo. Analistas já declaram que o crescimento ora verificado dificilmente se sustentará em 2008 e certamente não se repetirá em 2009.

Estamos reféns da situação internacional, que não se apresenta das mais favoráveis. Há crise nos Estados Unidos e também no Japão, para não falar no estouro dos preços do petróleo. Embora soe bem a retórica contra a globalização, nenhum analista sério aventura-se em afirmar que, no campo econômico, seja para colher resultados positivos ou negativos, estejamos isentos das suas influências.

O crescimento ora verificado merece todos os aplausos, mas recomenda cautela e, quem sabe, uma mudança de rumos que leve a investimentos de longo prazo e uma economia menos dependente do crescimento do consumo interno, por mais que este seja desejável. 

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo