Crescimento difícil

O presidente Lula, com exagerado otimismo, tem dito que o Brasil deverá crescer em torno de 5% ao ano daqui para frente. Otimismo é um bom insumo, pois tonifica as forças do governo e da nação para a necessária busca do progresso, embora seja aconselhável pés no chão, para que tudo não seja apenas um sonho que se transforme em frustração. E também para que, se inviável a consecução desse desiderato, não nos mantenha em rumos errados e carentes de projetos viáveis para a busca do crescimento.

O Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, ligado ao Ministério do Planejamento, portanto uma instituição do governo e não a ele alheia ou contra ele, acaba de divulgar um documento denominado ?Uma Agenda para o Crescimento Econômico e a Redução da Pobreza?. Nele, especialistas dizem que o Brasil não crescerá 5% nos próximos anos, como quer o presidente Lula, porque temos graves problemas no setor elétrico e baixa taxa de investimento. ?A tarefa do próximo governo será a de criar as condições para que, na década 2011/2020, o país possa ter um crescimento da ordem de 4,5% a 5% ao ano?, segundo o instituto. E estima que os proclamados 5% que o governo espera já para o ano que vem só poderão ser alcançados em 2017.

Esse texto do Ipea levanta uma discussão em boa hora, pois exatamente agora a equipe econômica do governo Lula, que ele anuncia poderá permanecer em seu próximo mandato, prepara um pacote com medidas fiscais objetivando acelerar o crescimento. Segundo projeção do mercado, esse crescimento, neste ano, não passa de 3%, e repete crescimento pífio, muito abaixo do proclamado pelo governo, inferior ao desejado pelos brasileiros e distante do que precisamos. O estudo do Ipea traça cenários macroeconômicos para o Brasil e conclui que, desde que seja feita uma ampla lição de casa, que inclui as reformas trabalhista, previdenciária e judiciária, o sonho de crescimento de 5% acontecerá só daqui a uns dez anos.

O instituto propõe o aperfeiçoamento do regime de metas de inflação. ?Após dois anos respeitando a meta de 4,5%, em 2007 e 2008, o próximo governo deveria avançar gradualmente no caminho da desinflação e operar com metas ligeiramente menores em 2009 e 2010. Indo mais além, propõe-se definir como objetivo de longo prazo uma inflação da ordem de 3% ao ano.?

O Ipea recomenda a preservação da meta de superávit primário, que é a economia do governo para pagamento dos juros da dívida pública. Considera que deva consolidar-se em 4,15% do PIB de 2007 a 2009. E uma redução suave a partir de 2010, até chegar a pouco mais de 2% em 2018. Há a recomendação de uma queda gradual da taxa de juros incidente sobre a dívida pública, de 8,5% no ano que vem para 4,5% no final do período englobado na análise. As despesas do governo com juros dessa dívida pública, com uma queda de apenas 1% na taxa de juros, representaria uma economia maior do que todo o custo do programa Fome Zero.

Outra recomendação é o ajuste das despesas públicas correntes em 0,1% do PIB, como está previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias. Ou seja: gastar menos e gastar o mais próximo possível do que se arrecada. O setor elétrico é outro dos grandes empecilhos para o desejado e anunciado crescimento econômico, pois não há grandes investimentos na geração de energia e, mesmo que sejam retomados, respondida a questão de onde achar o dinheiro, esses são projetos que exigem muitos anos para se concretizar.

Enfim, nos dizem os especialistas do Ipea que o Brasil continua sendo um país do futuro… 

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo