Na véspera de uma reunião decisiva para o futuro da Rodada Doha durante a cúpula do G-8, neste fim de semana, em São Petersburgo os países em desenvolvimento e a União Européia (UE) aumentaram a pressão para que os Estados Unidos melhorem sua oferta de redução de subsídios domésticos ao setor agrícola como forma de romper o impasse nas negociações de um novo acordo multilateral de comércio. Após se reunir na noite de anteontem com o comissário europeu para o comércio, Peter Mandelson, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que a proposta de Bruxelas avançou e em alguns pontos está muito próxima do reivindicado pelo Grupo dos Países em Desenvolvimento, o G-20

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"Dizer que a bola da vez está com os Estados Unidos dá a impressão de que ninguém mais tem responsabilidade no processo e me parece uma simplificação, pois todas partes têm de avançar nas propostas num movimento conjunto", disse Amorim, ontem, na embaixada brasileira em Londres, antes de embarcar para a Rússia. "Mas o grande movimento, o impulso, tem de vir dos Estados Unidos, na parte do apoio doméstico ao setor agrícola.

Segundo Amorim, há uma coincidência quase total entre a proposta de redução de apoio doméstico dos europeus e a posição do G-20. "Achamos que a UE avançou bastante e os Estados Unidos têm que cortar substancialmente." Em relação ao acesso aos mercados europeus, através da redução de tarifas e salvaguardas, Amorim disse que há "tendência para uma convergência, mas ainda há uma distância a ser coberta"

O ministro disse que a média do corte de tarifas de importação de produtos agrícolas sinalizada pelos europeus está próxima da proposta pelo G-20. "Mas se você pegar a redução das tarifas por banda de produto, ainda há espaço para Bruxelas melhorar a oferta." Para ele, é fundamental que os europeus expliquem com mais clareza sua lista de produtos agrícolas cujo acesso a países em desenvolvimento é praticamente barrado

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Amorim foi questionado sobre o fato de o G-20 estar mais próximo dos europeus nas negociações, situação contrária à constatada antes da conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Hong Kong, no fim do ano passado. "Essas coisas oscilam, os europeus avançaram, não o suficiente, mas avançaram", afirmou. "Antes de Hong Kong era o contrário, pois os americanos tinham avançado no apoio doméstico e deixado a expectativa de melhoras. É natural que os Estados Unidos sejam vistos agora como a bola da vez.

Segundo Amorim, um avanço na oferta americana poderia ser estimulada pelos europeus. "A União Européia tem de estar preparada para fazer um movimento forte em acesso a seus mercados, porque isso permitiria aos americanos uma avaliação melhor do quadro.

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Ele demonstrou cautela sobre a possibilidade do impasse na Rodada Doha ser superado durante a cúpula do G-8. "Há uma chance." Mas observou que o G-8 não é o palco mais apropriado para uma negociação comercial. "O ideal é que houvesse uma reunião com formato menor", afirmou. "Mas se sair de lá um mandato, mesmo que oral, para que os negociadores sigam para Genebra (sede da OMC) com a missão de fecharem um acordo, será um êxito." Ele observou que o tema não fazia parte da agenda do evento. "Mas a delegação americana, que inclui a a secretária para o Comércio, Susan Schwab, pediu a reunião bilateral com o Brasil e o diretor da OMC, Pascal Lamy, foi convidado a ir para a Rússia.

Amorim disse que a proposta do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, de transformar o G-8 em G-13, com a inclusão de Brasil, China, Índia, África do Sul e México, é viável. "É uma tendência inevitável." Segundo ele, os eventos no Brasil, Índia e China têm impacto na economia mundial. "Para falar a verdade, mais impacto do que acontece no Canadá", afirmou."É importante lembrar que Brasil e China estão entre os dez maiores PIBs do mundo".