Corumbá – Manifestantes de 16 cidades bolivianas que fazem fronteira com o Mato Grosso do Sul na região do Pantanal, reforçaram o bloqueio iniciado esta semana na divisa com Corumbá (MS) e Puerto Suarez (Bolívia), impedindo à partir de hoje (20) também o trânsito de pedestres. Na província de German Busch, o comércio paralisou as atividades e continuam fechados o aeroporto e a estação ferroviária, além de interdições em rodovias.
O maior reforço ao movimento, veio no início da tarde, quando o governador de Santa Cruz de La Sierra, Rubens Arguillera Costas, anunciou adesão total. Costas afirmou que o governo de Evo Moralles tem prazo de uma semana para cancelar o embargo das obras da Siderúrgica MM-X, do grupo empresarial brasileiro EBX, que estavam sendo feitas em Puerto Suarez, desde agosto de 2005.
"Santa Cruz é a grande expressão econômica e política da Bolívia Caso nossa reivindicação não seja atendida, vamos assumir greve geral a partir do próximo dia 27", garantiu.
O embargo foi anunciado terça-feira desta semana durante reunião na sede Comitê Cívico de Puerto Quijarro, por três ministros que acabaram ficando reféns até o dia seguinte no local, quando foram libertados por tropas do Exército. A paralisação das obras motivou demissão de 350 trabalhadores e outros 600 estão com o emprego ameaçado, situação que gerou a onda de protestos, e continua aumentando. Outra adesão é da Assembléia da Cruceñidad que representa 200 entidades empresariais, sindicais e políticas Seus dirigentes confirmaram apoio à causa dos moradores de Puerto Suárez.
Aproveitando o calor das manifestações, a população das cidades envolvidas nos protestos, que juntas formam a região da Chiquitania, pedem também a criação de pelo menos 800 novos postos médicos e 1.500 professores para o ensino fundamental.
Para Edgar Hurtado, presidente do Comitê Cívico de Puerto Quijarro, novas exigências irão surgindo na medida em que o movimento aumenta, porém o mais importante é a continuidade na construção da siderúrgica. "Essa indústria é um grande avanço social e econômico para nossa região."
Alternativa
O único acesso legal via rodoviária para a Bolívia é por meio da estrada asfaltada que liga Corumbá a Puerto Suarez. Existem alternativas porém consideradas perigosas, que são as chamadas estradas "cabriteiras", caminhos clandestinos abertos em áreas desertas por narcotraficantes e ladrões de carros. A polícia brasileira não aconselha a adoção dessa opções alertando sobre o fato de tratar-se de rotas muito perigosas.
Carros brasileiros que estavam circulando no lado boliviano, não podem voltar para Corumbá e vice-versa. No posto aduaneiro foi estendida uma bandeira da Bolívia, em meio a um amontoado de pneus velhos e um caminhão está atravessando na pista. Turistas não avisados chegam até o local e voltam decepcionados e nem mesmo os feirantes bolivianos que trabalham na feira livre de Corumbá têm passagem pela barreira.
Aparentemente, poucos carros e pessoas estão no bloqueio da divisa. Porém em qualquer tentativa de passagem, surgem dezenas de homens para garantir a continuidade da interdição. "É como se fosse índios de tocaia. De repente eles surgem do nada", observou um turista do Paraná que foi barrado pelo manifestantes Ele tentava atravessar a pé para o lado boliviano. Taxistas que tentaram ir para Corumbá, também tiveram que desistir da viagem.
Não há previsão para que a situação volte ao normal. "Tudo depende do presidente Evo Moralles. Vamos continuar exatamente como está até o dia 27, que consideramos decisivo para o endurecimento do protesto, ou a liberação da fronteira", afirmou Hurtado.
Nota oficial
A MMX esclareceu que "a empresa está devidamente constituída na Bolívia, com todos seus registros corporativos e tributários em dia e em ordem. Nossa empresa se submete à Constituição Política do Estado e se ampara na Lei de Inversões nº 1182 de 17 de setembro de 1990, lei da República que estimula e garante as inversões nacionais e estrangeiras, em igualdade de condições". A MMX também negou as versões que afirmam que a presença dela na fronteira com o Brasil é ilegal.
"É necessário esclarecer que o Projeto Siderúrgico se encontra situado em terrenos de propriedade e posse da empresa Boliviana Zoframaq, entidade que é concessionária de uma zona franca devidamente autorizada, conforme Licença Ambiental emitida em 07/OUT/2004 sob o nº. 071401-03-DAA-070-2004. Como participantes desta região, sua licença ambiental nos é compartilhada para a fase de construção. A empresa ainda não havia entrado em operação e já estava em processo avançado dos estudos destes impactos e da conduta a ser implantada no momento certo", informou a nota.
