Credores vão analisar proposta da VarigLog

A Varig parte amanhã (17) para uma sucessão de reuniões individuais com os credores para apresentar e negociar a proposta de US$ 400 milhões recebida da VarigLog. Na quarta ou quinta-feira, haverá uma reunião prévia com os principais credores. A idéia geral é alcançar um consenso básico antes da assembléia de credores, prevista para o dia 2. A semana é decisiva para a Varig e os donos das 200 mil passagens já emitidas pela empresa.

O quadro foi traçado pelo presidente da Varig, Marcelo Bottini. No feriado da Páscoa, a diretoria da companhia estava toda reunida na sede, à tarde, traçando as novas estratégias. "A empresa espera, o quanto antes, negociar com os principais credores a viabilização dela (proposta da VarigLog)", disse Bottini, que pela manhã havia participado de missa na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, junto com trabalhadores e aposentados da Varig.

No fim da missa, para celebrar a Páscoa, o padre André Feitosa referiu-se aos funcionários da Varig: "Deus abençoe vocês e conceda a melhor solução possível." Na saída, Bottini disse que a questão agora é encontrar a "proposta ideal, uma solução de mercado".

Amanhã, a empresa também vai ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) continuar sondagens sobre eventual participação do banco em alternativas de capitalização via mercado. Além disso, haverá reunião do conselho da BR Distribuidora, que poderá oficializar decisão sobre pedido de concessão de prazo para os pagamentos da Varig.

A Varig Log confirmou que a nova proposta explicita o compromisso de a "nova Varig" honrar os bilhetes emitidos pela empresa e a milhagem conquistada pelos clientes no Smiles. Além disso, as informações são de que ficou estabelecido que a "velha Varig" (endividada) terá 5% da nova empresa (que nasceria sem dívidas) e receberá um pagamento anual – recursos com os quais as pesadas dívidas seriam gradativamente abatidas.

Bottini não entrou em detalhes sobre a nova proposta, por conta das cláusulas de confidencialidade. Mas disse que a principal diferença é "uma flexibilidade" para a negociação com os credores. O esforço, agora, é tentar acomodar os interesses de trabalhadores, o fundo de pensão e demais credores. A VarigLog indicou que não pretende herdar a bilionária dívida da Varig, mas os entendimentos são para tentar equacionar os passivos anterior e o corrente.

A VarigLog é controlada pela Volo Brasil, do qual participa o fundo americano Matlin Patterson. Uma fonte que acompanha o caso informa que o executivo Lap Chan, acionista do Matlin, estará no Brasil esta semana. O fundo está antecipando recebíveis de recursos que a Varig tem do programa Smiles (incluída uma taxa típica de desconto), o que representa algum reforço de caixa para a empresa.

Bottini disse apenas que o Matlin já tem feito ações de recebíveis com a empresa e citou uma antecipação no fim de 2005, quando a Varig precisava pagar dívidas com arrendadores de aviões. O presidente negou a informação de que o empresário Nelson Tanure estaria refazendo proposta de compra da Varig. Tanure fez oferta pela empresa no ano passado, mas não apresentou outra, segundo a Varig.

A aprovação da proposta da VarigLog por parte dos credores dependerá dos esforços de negociação, da aprovação da assembléia de credores e de uma autorização pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Trabalhadores e o fundo Aerus criticaram a primeira proposta da VarigLog. O presidente da Associação dos Pilotos da Varig (Apvar), Rodrigo Marocco, disse que a proposta da VarigLog precisa ser viável. "Vamos analisar", disse.

A Apvar defende a utilização das aposentadorias de funcionários para aplicar na empresa. Marocco disse que está prevista reunião técnica no Ministério da Defesa para analisar o assunto. Cerca de 300 funcionários e ex-funcionários da Varig participaram da missa e depois fizeram manifestações na orla de Ipanema, com críticas ao governo.

Aposentada há três anos, Gabriela Kvassay, de 55, tirou do armário a roupa de aeromoça. "Tenho fé, acredito que a Varig vai superar esta crise. Mas estou morrendo de medo porque dependo da aposentadoria para viver", disse ela, carregando álbuns de fotos acumuladas nos 38 anos de Varig. "Fiz o vôo do papa, em 1980", lembrou. Amanhã à tarde, sindicatos de trabalhadores reúnem-se na empresa para pôr em prática o plano de demissões. Na quinta-feira, aceitaram o corte de 2,9 mil postos e redução de 30% dos salários.

Sobre o risco de falência, freqüentemente levantado nas últimas semanas e que hoje constou de nota do governo britânico, Bottini declarou: "Temos mostrado, tanto para os novos investidores quanto para os credores, para os juízes, que a Varig é viável", afirmou. Em outra frente, a empresa deverá iniciar, esta semana, o registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) do fundo de investimento, previsto no fundo de recuperação, para receber o aporte de futuros investimentos, alternativa, contudo, que pode levar dois meses.

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