Mais uma vez Brasília desempenhou com um apuro inigualável o papel de protagonista: após a prolongada crise do setor aéreo, iniciada em setembro do ano passado com o choque entre o Boeing da Gol e o jato executivo Legacy, que voavam sobre a floresta amazônica, com a morte de 154 pessoas, alguém devia pagar o preço da inapetência para resolver questões desafiantes.
Claramente desprestigiado durante todo o tempo, a pena do afastamento puro e simples recaiu sobre o ministro Waldir Pires, substituído no Ministério da Defesa pelo ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim. Aliás, um referencial do arco político brasileiro que o presidente da República gostaria imensamente de contar muito antes entre seus colaboradores.
É muito cedo para afirmar, no entanto, se Jobim terá desempenho satisfatório à frente do Ministério da Defesa, criado em 1999 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, num ambiente institucional assinalado por desavenças históricas – algumas de triste memória – entre civis e militares. O novo titular da pasta comandou por algum tempo o Ministério da Justiça no governo FHC e, mais tarde, foi indicado para o STF, do qual foi presidente.
Sem dúvida uma bela carreira para um advogado constitucionalista, professor da cadeira na Universidade Federal de Santa Maria (RS), de onde aflorou eleito pelo PMDB para a Assembléia Nacional Constituinte. Sua atuação logo alcançou notoriedade pela segurança das convicções republicanas e no ordenamento jurídico das soluções mais adequadas.
Os contatos iniciais do ministro Nelson Jobim com a problemática da aviação civil e, por extensão, com a complexidade dos assuntos sobre os quais deverá se debruçar, dão conta de mudanças iminentes no comando da Infraero (estatal que administra os aeroportos comerciais), um dos focos da crise.
Jobim não é, nem de longe, um especialista em assuntos de defesa, cuja multiplicidade exige conhecimento técnico bastante sofisticado, além do domínio da temática militarista em grau próximo da perfeição e sagacidade para transitar sem intercorrências no campo minado da idiossincrasia castrense.
Tudo o que Lula prometeu a Waldir, decerto renovou agora a Jobim. A tarefa é áspera, mas a sociedade concederá um crédito de confiança.