Os espinhos começam a produzir profundos arranhões na face até aqui insuspeita do serviço público de saúde animal. Não se contesta mais a verdade cristalina da forma irresponsável com que os governos federal e estadual – o mau exemplo vem do Mato Grosso do Sul – trataram a questão da febre aftosa.
Quem autoriza a pensar nessa linha é João Cavalléro, diretor-presidente da Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal (Iagro), para quem a estrutura de combate às doenças agrícolas ou animais precisa ser repensada em termos de controle, erradicação e prevenção.
A declaração resulta ainda mais grave, quando se lembra que Mato Grosso do Sul possui atualmente o maior rebanho bovino do País e, em conseqüência, está na vanguarda da exportação de carne ?in natura? e industrializada.
Pois todo esse expressivo cabedal econômico contou com R$ 5 milhões de recursos orçamentários da União liberados somente em setembro, quando a descoberta dos focos de aftosa havia fechado as fronteiras à carne brasileira.
A interrupção dessa compra por importantes mercados internacionais é um castigo inesperado, mas facilmente antevisto na imensa crônica do desleixo institucional brasileiro. Não basta assumir a culpabilidade pelo golpe, mas arregaçar as mangas e trabalhar pela recuperação do tempo perdido.
Um esforço que vai exigir muito mais em termos de dinheiro, sacrifícios pessoais, investimento em credibilidade e respeito.