CPMI eterniza-se

A CPMI dos Correios, que tem missão que ultrapassa os comprovados atos de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, pois investiga o uso de dinheiro movimentado via valerioduto no exterior e tudo o mais que não coube na chamada CPMI do Mensalão, não vai conseguir concluir seus trabalhos dentro do prazo regimental.

Programada para encerrar suas investigações e apresentar relatórios conclusivos em dezembro próximo, seu próprio presidente, o deputado petista do Mato Grosso do Sul Delcídio Amaral, declara que só espera o fim dos trabalhos lá por março do ano que vem, quando estaremos em plena campanha eleitoral.

Essa Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, a mais importante em funcionamento, pois a outra mais se dedica ao mal endêmico dos caixas 2 nas campanhas eleitorais, prática condenável que foi adotada desde muito e por diversos partidos, inclusive os que apoiaram o governo FHC, cuida entre outras coisas de descobrir o mau uso dos dinheiros públicos em estatais e o trânsito e origem de dinheiro brasileiro em outros países e paraísos fiscais, como já ocorreu com o famoso e ainda não desvendado caso das contas CC-5 do Banestado. Talvez já desvendado, mas cujas conclusões sempre foram guardadas a quatro chaves, por envolver interesses enormes e gente muito importante da política e do mundo dos negócios. Surgiram apenas alguns nomes, gatos pingados no imenso rol de envolvidos.

A CPMI dos Correios procurou acesso a essa documentação, levantada em Nova York, mas a promotoria daquela cidade norte-americana negou, porque no caso Banestado teria havido vazamento de informações sigilosas. A Polícia Federal brasileira recebeu tais documentos, mas não pode repassá-los à CPMI, por exigência das autoridades norte-americanas.

Por causa disso, segundo o próprio deputado petista Delcídio Amaral, as investigações se eternizam. Com muita sorte, terminarão em março do ano que vem. Mas, para que isso seja conseguido, terá que contratar auditorias externas, argumentando que são mais isentas. Estariam entidades públicas brasileiras sendo conduzidas ou travadas por interesses políticos? Ele nem afirma nem nega. Apenas suspeita.

Uma comissão de parlamentares também será utilizada para investigar os caminhos do dinheiro obtido via Valério, o intermediário e empresário do ramo da publicidade de Minas Gerais. Ela irá a Nova York, gastando dinheiro do povo, para ver se consegue as provas que a Polícia Federal brasileira já tem. O fato é que, depois da vergonha e das perdas com a corrupção revelada nesse múltiplo escândalo investigado pelas CPMIs, agora envolvendo bases governistas e remontando-se a irregularidades semelhantes praticadas por gente do governo passado, ainda teremos de gastar mais dinheiro dos brasileiros. E o tempo que nos falta, quando está tão próximo o ano eleitoral de 2006.

Isso prejudica as decisões eleitorais. Nos escândalos, continuam mais perguntas que respostas e é certo que o povo quer votar em gente honesta. Mas se as CPMIs não revelam quais são em tempo, corremos o risco de transformar o pleito do ano que vem, que se deseja redentor, em mais uma pantomima em que os maus usos e costumes políticos estarão comandando um enredo de tragicomédia política.

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