Para que não funcionem duas comissões parlamentares de inquérito dos cartões corporativos, governo e oposição chegaram a um acordo. Haverá só uma CPI, mista, com participação em seus postos-chave tanto de situacionistas quanto de oposicionistas. O PMDB cedeu ao PSDB a presidência da comissão, afastando-se da posição inicial de ter em mãos situacionistas tanto a presidência quanto a relatoria. Não foi uma atitude de gente boazinha, mas uma manobra para evitar que a ameaça oposicionista de implantar duas comissões de inquérito, uma mista e outra só do Senado, fosse concretizada. A oposição tem maioria no Senado Federal e poderia fazer funcionar uma segunda CPI com chances de aprovação do relatório que dela resultasse.

continua após a publicidade

A cessão pelo PMDB da presidência da CPMI ao PSDB resultou numa manobra oposicionista buscando nos próprios quadros peemedebista um nome para o cargo. Indicaram Jarbas Vasconcellos, ex-governador de Pernambuco, do PMDB, mas que não atua como ?vaquinha de presépio? das hostes situacionistas. O político pernambucano não aceitou o cargo.

Acabaram indicando a senadora do PSDB de Mato Grosso do Sul Marisa Serrano, que aceitou as funções e chegou a anunciar que seu papel será fazer com que as investigações cheguem a um final, mesmo que tenha de ser investigado o uso dos cartões corporativos tanto no governo Lula quanto no de Fernando Henrique Cardoso.

Formalmente, chegou-se a bom termo na investida política para trazer a público os nebulosos negócios com o uso de cartões de crédito corporativo, uma prática comum e talvez até necessária nas administrações públicas, mas que levou a desmandos, que, em alguns casos, são escandalosos. Três ministros do governo Lula estiveram envolvidos e a da Igualdade Racial pediu demissão. Embora estranho, o presidente da República não demitiu ninguém. Exonerou a ministra, a pedido, e com públicos lamentos.

continua após a publicidade

Há muita licenciosidade. Episódios como o uso irregular e não raro escandaloso dos cartões corporativos, se ocorressem numa democracia consolidada, teria levado a uma limpa no Executivo e, em alguns países como o Japão, onde a ética política é levada extremamente a sério, não seria de se estranhar que algum envolvido renunciasse ao cargo e até a vida. Não são poucos os casos que chegam a este extremo no país asiático.

Aqui, como diz a música popular, ?não existe pecado do lado debaixo do Equador?. O presidente não só perdoa, como justifica e lamenta tais episódios, apresentando seus autores como vítimas de aceitáveis equívocos. Não há apreço pelo dinheiro públicos e muito menos pela ética na política, que não é exigida de aliados. Estes, quando se desviam dos caminhos aceitáveis, recebem agrados e são consolados com lamentos públicos, como se não devesse o governo, antes de mais nada, cuidar dos interesses da Nação e não dos que de seu comando se ocupam.

continua após a publicidade

O fato é que com uma ou duas CPIs, o caso dos cartões de crédito corporativos não chegará a resultado algum no âmbito do Congresso. As CPIs têm servido de palanque, tanto para a oposição quanto para o governo. Mas os escândalos, que são tantos na administração federal e não menores e nem em menor número nas estaduais e municipais, tudo indica que serão desvendados e os responsáveis punidos na instância do Poder Judiciário, onde já foram desenterrados vários deles, a começar pelo incrível episódio dos mensalões.