O que se vê e o que se lê sobre o que acontece em Brasília, principalmente no Congresso e no Poder Executivo, mostra um quadro caótico. Denúncias aos borbotões, ações ostensivas da Polícia Federal na caça aos corruptos e criminosos de toda espécie. Na Câmara, um deputado sobe à tribuna e desanca o governo, inclusive o presidente Lula, com palavras de baixo calão. Nas galerias, agitadores exibem suas bandeiras vermelhas, gritam ?slogans?, aplaudem e vaiam e acabam sendo expulsos pela tropa de segurança comandada pelo folclórico presidente Severino Cavalcanti. Deputados gritam, se empurram e chegam aos bofetões. Tudo isso enquanto um ex-aliado do presidente Lula, o deputado fluminense Roberto Jefferson, que comandava o situacionista PTB, toma conta da caixa de fósforos e vai acendendo fogueiras aqui e ali, queimando reputações que pareciam ilibadas, enquanto do alto do seu apartamento, com voz de taquara rachada, berra trechos de óperas.
Nesse ambiente, parece óbvio que é impossível tocar ao mesmo tempo uma enorme fileira de comissões parlamentares de inquérito já requeridas ou ainda cogitadas. É a CPI dos Mensalões, a dos Correios, a das Privatizações, a do Bingo e mais meia dúzia. Algumas necessárias, outras imprescindíveis e não poucas meros palanques que parlamentares tentam construir para, do seu alto, fazer demagogia eleitoreira e atacar adversários políticos.
O ano que vem, pré-eleitoral, será ideal para que elas funcionem, pois serão palanques muito apropriados para atacar Lula e seu governo, justamente quando estará em campanha para a sonhada reeleição. Não obstante, a desprendida oposição, em nome da governabilidade, entrou em acordo com os líderes situacionistas e adiaram a instalação das CPIs do Bingo e das Privatizações. Ao adiar a instalação da primeira, de certa forma contrariaram determinação do Supremo Tribunal Federal, que anulou manobra situacionista que visava impedir a investigação sobre os achaques de Waldomiro Diniz, do grupo de José Dirceu, contra donos de bingos e bicheiros. A das Privatizações tem o objetivo de, pelo espelho retrovisor, tentar alcançar o governo passado de Fernando Henrique Cardoso.
A justificativa para a não-instalação agora dessas CPIs que estavam na gaveta ou no purgatório é que assuntos como o dos mensalões e dos Correios já são enredos suficientemente explosivos e politicamente pornográficos para agitar o Congresso e o Poder Executivo, o que pode entravar o andamento regular de projetos que deveriam estar tramitando, mas estão na longa fila de espera. Projetos entravados de interesse do povo brasileiro.
Não há como discordar do acordo que adia a instalação de algumas das CPIs, pois o Congresso precisa continuar legislando. Mas quando a gente vê que existem no Brasil nada menos que 594 parlamentares federais, sendo 513 deputados e 81 senadores, que custam ao povo o olho da cara, a impressão é que poderiam legislar e ainda fazer funcionar essas investigações, via CPIs ou outros instrumentos. Temos deputados e senadores demais. São tantos que parece sobrar para legislar e ainda investigar as maracutaias que vêm sendo denunciadas. Seria interessante uma escolha: ou menos parlamentares trabalhando mais, ou menos escândalos atrapalhando menos.