Muito barulho por nada. As quatro principais CPIs instaladas pelo Congresso para apurar irregularidades em meio à crise que atingiu o governo do presidente Lula – Correios, Mensalão, Bingos e Sanguessugas – começaram a todo vapor, prometendo investigação a fundo. Não foi o que exatamente se viu ao final de cada uma delas. Centenas de depoimentos colhidos – exibidos ao vivo pelas redes de TV por longas horas -, acareações, factóides, brigas e finais melancólicos.
A lista das comissões mais improdutivas é encabeçada pela CPI do Mensalão, que acabou com um relatório humilde feito em conjunto com a dos Correios e no qual se recomendou abertura de processo contra 18 parlamentares.
A CPI dos Bingos chegou a ser apelidada de ?CPI do fim do mundo? por investigar muitos outros temas, e não o que deu origem à abertura da comissão. Acabou apontando a existência de um esquema de corrupção entre pessoas ligadas ao presidente Lula e pedindo o indiciamento de 4 empresas e 79 pessoas. O número de pedidos de indiciamento da CPI dos Bingos foi um pouco menor do que o sugerido pela CPI dos Correios, que antes já havia proposto o indiciamento de 124 pessoas, entre elas os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken.
Mais recente, a CPI dos Sanguessugas terminou na última quinta-feira (14) depois de seis meses de funcionamento. Começou investigando 72 pessoas e acabou sugerindo ao Ministério Público o indiciamento de 10 acusados de ligação com a máfia das ambulâncias. Nenhum deles é parlamentar.
Apesar do ?cheiro de pizza? no ar, os parlamentares que estiveram na linha de frente das comissões de inquérito rejeitam a tese de que as CPIs não serviram para nada. ?Valeu a pena sim? assegura o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), que exerceu a função de relator da CPI dos Bingos. ?Temos consciência do trabalho que foi feito. Fizemos a nossa parte. Nossa função era fazer o encaminhamento. Agora, o julgamento e a punição cabem à Justiça?, afirmou nesta sexta-feira (15).
Ainda que tenha ressaltado a importância das quatro CPIs, Garibaldi Alves reconheceu que, em alguns momentos, os trabalhos das comissões foram prejudicados pela politização. ?Isso se tornou inevitável?, comentou. ?Não há impressão de pizza. Por meio das CPIs a nação teve conhecimento de fatos que não teriam sido levados a público a não ser pelas comissões?, observou.
Mesma opinião tem o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), que até a última quinta-feira exercia o papel de vice-presidente da CPI dos Sanguessugas. ?As CPIs foram marcantes. Sem elas não teríamos conhecimento da necrose do sistema político. No caso da CPI dos Sanguessugas, apenas 10% dos denunciados foram reeleitos. Já é alguma coisa?, anotou.