Já defendemos, neste espaço, a montagem de comissões parlamentares de inquérito (CPIs) para investigar a corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, no Instituto de Resseguros do Brasil, o envolvimento de gente do poder com os bicheiros e as mesadas que teriam sido pagas pelo tesoureiro do PT a deputados da chamada base aliada, para votarem a favor das propostas de Lula. As forças situacionistas resistiram o quanto puderam, insistindo que as denúncias seriam objeto de suficientes investigações na Polícia Federal. Portanto, as CPIs seriam dispensáveis. E dispensadas porque se teme que se transformem num palanque para a oposição espinafrar o governo em ano eleitoral.
Afinal, o grupo situacionista foi obrigado a ceder, pois a estória das mesadas para deputados aliados é escândalo para malandro nenhum botar defeito. E, envolvendo ao mesmo tempo o Executivo e o Legislativo, não pode e não deve ser tratada como assunto interno da Câmara. É um problema que envolve dois poderes e ainda, o partido do presidente, o PT. É bem mais que uma mera fofoca envolvendo deputados.
Mas, abertas as comportas, parece que não param as sugestões para outras CPIs, o que bem demonstra que, por detrás de tudo, além do mar de lama e seu insuportável mau cheiro, existem razões de ordem eleitoreira falando mais alto.
Agora, partidos situacionistas exigem que as investigações sobre mesadas para compra de votos para as propostas governistas comecem chafurdando fatos desde 1997, buscando provar que também no governo Fernando Henrique Cardoso, para sua reeleição, correu dinheiro do povo na compra de apoios.
Isto pode ser verdade. Melhor dizendo, provavelmente é verdade.
Mas o que é inconveniente é que todos esses escândalos que já abalam o conceito do País, de seu governo e influem de forma negativa até em sua vida econômica, não tenham fim em profundidade, extensão e sejam tratados como se nunca prescrevessem. Se, neste Brasil, formos investigar, via CPIs, tudo o que de escandaloso se fez nos governos e na política, vamos chegar ao tempo do descobrimento. Talvez descer das empoeiradas prateleiras das mais antigas bibliotecas velhos livros de História, para descobrir que não foram muitos os políticos honestos. Nem hoje, nem ontem, nem no tempo do Brasil Colônia.
Como o filósofo grego, será preciso andar de lanterna acesa, à procura de um homem honesto.
Ou se circunscrevem no tempo e no tema os assuntos a serem investigados, ou essa briga não vai mais parar. E, pior do que isso, descobriremos que a corrupção é uma instituição nacional quase impossível de acabar.
Confrontar corrupção do tempo de FHC e corrupção na administração Lula é, evidentemente, um meio malcheiroso de iniciar a campanha sucessória. Se não quiserem esquecer FHC, que pelo menos se evite dele lembrar a todo momento, pois isto seria desviar as atenções dos escândalos de hoje, suficientemente chocantes e pluralizados para montagem de uma penca de CPIs.