A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios tentará aprovar quinta-feira (09) uma regra que limita ao líder do PT no Senado e presidente da CPI, Delcídio Amaral (MS), e ao relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), o acesso aos documentos produzidos pela quebra do sigilo bancário do publicitário Duda Mendonça no exterior. A restrição foi uma exigência das autoridades norte-americanas e desagradou a integrantes da comissão, que ameaçam votar contra o acordo.
Pelo entendimento, Amaral e Serraglio poderão manusear os documentos no Ministério Público (MP) ou no Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) do Ministério da Justiça. A fim de evitar vazamentos, a CPI não receberá cópias da papelada. O acerto com as autoridades americanas prevê ainda que, no relatório final da comissão, só haverá referência aos documentos nos itens essenciais à investigação.
O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), que participou das negociações nos Estados Unidos, espera que a comissão tenha acesso na próxima semana aos dados das contas de Duda Mendonça. Outros representantes da oposição na CPI protestaram contra o acordo. "Acho que a CPI não deveria se submeter a esse tipo de exigência. É um desrespeito à instituição. Voto contra", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). "Tenho absoluta convicção de que o acesso restrito é anti-regimental. Todos os documentos têm de ser compartilhados com todos os membros da CPI", afirmou o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).
Pelo menos um petista defendeu a ampliação do número de parlamentares com acesso aos documentos do publicitário. "Vou sugerir que seja um grupo um pouco mais amplo com acesso à papelada", informou o deputado Maurício Rands (PT-PE), que também participou das conversas com as autoridades americanas. Rands propôs que tanto ele e como Paes sejam incorporados ao grupo com acesso aos dados.
A CPI pretende levar a votação na mesma reunião requerimento que propõe a convocação de Duda Mendonça e do ex-diretor de Furnas Centrais Elétricas Dimas Toledo, apontado como cabeça de um suposto esquema de arrecadação de dinheiro em favor de candidatos do PSDB e do PFL nas eleições de 2002. Os dois partidos de oposição negam a existência de um acerto com os governistas para poupar o publicitário e, em troca, evitar a convocação de Toledo.
"Estamos nas conclusões finais da CPI. Como vou começar uma investigação nova? Quisera que não estivéssemos num ano eleitoral e aí a CPI iria às últimas conseqüências", o relator da CPI dos Correios. Serraglio afirmou que Duda Mendonça só deveria ser chamado, novamente, para depor, caso os documentos com a quebra do sigilo tragam dados novos. "Ninguém vai preservar ninguém. Mas se ele (Duda Mendonça) vier apenas para repetir o que disse na semana passada para a Polícia Federal (PF), não é necessário que ele venha", argumentou o relator.