O presidente e o relator da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS) e deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), pressionaram hoje (22) o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, para o estabelecimento de critérios mais rígidos para a concessão de habeas-corpus aos depoentes da comissão. "Uma coisa é o depoente manter seu direito constitucional de não gerar provas contra si próprio, e outra coisa é usar de subterfúgios para não colaborar com a CPI", disse Delcídio, na saída do encontro.

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Para os integrantes da CPI, ao serem munidos de habeas-corpus, Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, Sílvio Pereira, ex-secretário-geral do partido, e Marcos Valério Fernandes, empresário acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o operador do "mensalão", se sentiram à vontade para mentir ou não responder perguntas que os comprometessem. O temor dos parlamentares é que isso possa se repetir na terça-feira (26), quando a CPI ouvirá Renilda Santiago, esposa de Valério. "A priori, não trabalhamos com a perspectiva dela buscar habeas-corpus. Vamos aguardar o transcorrer dos dias", disse Delcídio.

De Jobim, os parlamentares ouviram que o STF apenas "tem preservado os direitos constitucionais dos depoentes". Mas prometeu, conforme relato de Delcídio, "analisar criteriosamente caso a caso". Segundo o senador, o presidente do Supremo comprometeu-se a manter atenção especial para os casos de os depoentes tentarem obter habeas-corpus exclusivamente para dificultar as apurações da CPI.

Acesso

No mesmo encontro, Delcídio e Serraglio também solicitaram a Jobim acesso aos documentos de empresas de Marcos Valério apreendidos pela Polícia Federal em Belo Horizonte. O presidente do STF explicou aos parlamentares que os documentos ainda estão em posse da Procuradoria Geral da República (PGR), para onde ele os encaminhou.

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"O ministro Jobim nos disse que vai aguardar o parecer da Procuradoria para, posteriormente, avaliar a possibilidade de remessa à CPI", declarou Delcídio. "É preciso aguardar a passagem dos documentos pela PGR, porque este procedimento faz parte da liturgia jurídica." Na próxima semana, a CPI deverá criar subcomissões formadas por pequenos agrupamentos de parlamentares, com o objetivo de agilizar a análise de documentos e a tomada de depoimentos. "Vamos agilizar e sistematizar os trabalhos, com a criação de grupos menores que se responsabilizarão a passar as informações ao relator", contou Delcídio. "Temos 44 requisições aprovadas para a tomada de depoimentos. Com os grupos, poderemos tomar vários depoimentos simultaneamente", estimou.

"Mensalão"

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O presidente da CPI declarou ainda que as investigações da comissão não permitem, até o momento, comprovar a existência do pagamento de "mensalão" para parlamentares, apesar das vultosas movimentações financeiras constatadas nas contas bancárias das agências de publicidade SMPB e DNA Propaganda, que já atingem a casa de R$ 80 milhões (R$ 50 milhões no Banco do Brasil e R$ 30 milhões no Banco Rural).

"Observamos grandes movimentações financeiras, vários saques de valores expressivos, mas não identificamos nenhuma periodicidade e nem freqüência desses saques, o que caracterizaria o ‘mensalão’", disse o senador. "Os saques se distribuem ao longo de um mesmo mês, mas não com regularidade nos seguintes", insistiu.