A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios vive um dilema sobre o que fazer com nove deputados e um senador associados a remessas ilegais para o exterior pela conta Beacon Hill. As remessas foram feitas entre 1996 e 2002, usando doleiros, e somam mais de US$ 6,3 milhões, conforme um relatório reservado do Instituto Nacional de Criminalística (INC), da Polícia Federal (PF), ao qual a reportagem teve acesso. A CPI não sabe se os parlamentares cometeram crime ou foram vítimas de irregularidades cometidas por bancos.
O relatório cita o senador Fernando Flexa Ribeiro (PSDB-PA) e os deputados Vittorio Medioli (PV-MG), Itamar Serpa (PSDB-RJ), Álvaro Dias (PSDB-PR), Pedro Irujo (sem partido-BA), João Lyra (PTB-AL), Francisco Garcia (PP-AM), Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Arolde de Oliveira (PFL-RJ) e Pauderney Avelino (PFL-AM).
Medioli, Serpa e Ribeiro dizem que são grandes empresários e não entendem por que essas remessas – ínfimas para os valores que alegam movimentar – aparecem como ilegais. Eles atribuem a responsabilidade ao bancos com que trabalham.
Medioli teria remetido US$ 1,4 milhão, Serpa, de US$ 28 8 mil e Flexa Ribeiro, US$ 1,06 milhão. Outros, como Cunha (US$ 23 mil), afirmam que no período investigado tinham filhos no exterior e lhes enviavam dinheiro, mas desconhecem qualquer ilegalidade nas operações.
O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), diz que não tem meios para apurar o caso para não perder o foco das investigações, centradas no esquema de corrupção supostamente operado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Enviado pelo governo americano para auxiliar nas investigações da CPI do Banestado, o banco de dados da Beacon Hill está há mais de um ano em poder do INC. Essa CPI foi extinta no fim de 2004, sem produzir nenhum resultado, por causa de uma briga entre o presidente, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), e o relator, deputado José Mentor (PT-SP). A partir do depoimento do doleiro Antônio Claramunt, o Toninho da Barcelona, há três meses, os peritos da CPI dos Correios acabaram descobrindo a lista dos parlamentares.
O maior volume de remessas, mais de US$ 2,8 milhões, foi feito por parentes de Pauderney, como seus irmãos Pauderley e Paulo Ney. Ele é apontado como beneficiário, mas nega. "É retaliação do PT e do estado policial montado no Brasil para tentar silenciar oposicionistas como eu." O deputado disse que os irmãos são empresários com negócios no exterior e ele não tem nada a ver com isso.
Apesar de ser grande empresário, Irujo nega ter feito a remessa de US$ 26,8 mil, por meio do doleiro Luis Filipe Malhão, para o MTB Bank, passando pelo Citibank e o Privanza Bank, da Suíça. "Não conheço esse doleiro, não tenho conta nesses bancos e nunca enviei um centavo sequer para o exterior."
Dias (remessa de US$ 25 mil) estava viajando e não foi localizado. A assessoria de João Lyra negou irregularidades e afirmou que a remessa atribuída a ele, US$ 85 mil, não é 10% do que movimenta por ano em importações e exportações. Garcia e Arolde de Oliveira também não foram encontrados.