Em depoimento ontem à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, o
consultor Arlindo Molina confirmou que recebeu R$ 20.000 do empresário Arthur
Wascheck Neto, que mandou gravar conversa em que o então chefe do Departamento
de Administração e Contratação da ECT, Maurício Marinho, aparece recebendo
propina de R$ 3.000.
Molina afirmou que pediu o dinheiro a Wascheck, seu amigo,
para se "socorrer" e cobrir dívidas do cheque especial. Molina negou que tenha
tentado extorquir o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) com a ameaça de divulgar
a gravação. Contou que se encontrou com Jefferson no dia 3 de maio, no gabinete
da Liderança do PTB na Câmara, e o avisou sobre uma "bomba atômica" que iria
explodir nos Correios. O consultor disse também que tinha visto a gravação antes
de se encontrar com o deputado. "Eu não levei nenhuma fita ao Roberto
Jefferson", afirmou Molina. A versão dele para o episódio contraria a acusação
feita pelo deputado Roberto Jefferson, que afirmou ter sido chantageado pelo
consultor.
No depoimento, Molina informou que recebeu R$ 10 mil de Wascheck no
dia 9 de maio. Depois, o empresário lhe deu mais R$ 7 mil, em dinheiro vivo, no
dia 20 ou 22 de maio. Por último, Molina contou que "pegou mais R$ 3 mil com o
Arthur". Molina disse que o empresário Wascheck lhe mostrou a fita com Marinho
recebendo propina, antes de seu encontro com Jefferson. Segundo o consultor, o
interesse de Wascheck para tirar Marinho dos Correios era comercial.
O encontro
com Jefferson, explicou Molina, foi intermediado pelo senador Ney Suassuna
(PMDB-PB), que era amigo do ex-senador Duciomar Costa (PTB), hoje prefeito de
Belém (PA). Molina estava prestando consultoria à Prefeitura da capital
paraense. "Na saída do gabinete, em pé, disse ao deputado Roberto Jefferson: há
boato de que vai explodir uma bomba atômica nos Correios. Um tal de Marinho foi
flagrado recebendo dinheiro em seu nome", contou Molina. "Não conheço nenhum
Marinho. Isso é caso de demissão. Entregue isso para o Antônio Osório
(ex-diretor de Administração dos Correios)", respondeu Jefferson. "Como é que
pratiquei extorsão em menos de um minuto, em pé e com testemunhas?", indagou
Molina.