Brasília (AE) – A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios deve divulgar quinta-feira (10) um relatório parcial apontando as supostas fontes de recursos que financiaram o esquema do empresário Marcos Valério de Souza, que, na avaliação do deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), montou uma "operação perfeita" a fim de repassar verbas para o PT. A CPI recomendará que Valério e o ex-secretário nacional de Finanças e Planejamento do partido Delúbio Soares sejam indiciados por crime de corrupção e improbidade. Até hoje, Fruet tinha elaborado 50 páginas do relatório que menciona todos os depósitos bancários de Valério. Depois de aprovado pela CPI, o documento será encaminhado ao Ministério Público (MP), Receita, Polícia Federal (PF) e Tribunal de Contas da União (TCU) para que tomem as providências.
Ele, que é sub-relator de Movimentações Financeiras da CPI, disse que, se obtiver todas as informações ao longo da semana, estenderá também as punições aos agentes públicos que teriam atuado no esquema. Na semana passada, o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), revelou uma das fontes que abasteceu o valerioduto: o contrato da agência de publicidade DNA Propaganda, empresa de Valério, com a Visanet. Segundo Fruet numa operação de 2004, a agência de publicidade teria recebido adiantados R$ 10 milhões do Banco do Brasil (BB) – acionista da Visanet – e transferiu para o Banco BMG, que emprestou ao advogado Rogério Tolentino (do grupo de Valério) e, deste, o dinheiro foi para a legenda.
Fruet disse que, pela primeira vez, uma agência, no caso a DNA, teria usado contratos com o governo como garantia bancária e, depois, "repassado o dinheiro para um partido do governo". "É uma operação perfeita sem nenhum risco para o publicitário." Outras fontes que teriam alimentado o esquema são os contratos de publicidade com estatais, sobretudo com a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), em que o TCU até mesmo identificou irregularidades. Nas investigações, o deputado descobriu também que, no contrato da DNA com o Banco do Brasil (BB), há uma claúsula dizendo que qualquer desconto tinha de ser revertido para a instituição financeira e não à agência. Mas tudo indica que a empresa incorporou as bonificações dos contratos – a gratificação que os veículos de comunicação pagam para as agências em troca de anúncios.
Além do relatório parcial da CPI dos Correios, as atenções estarão voltadas para a CPI dos Bingos. Está marcado para terça-feira (08) o depoimento do economista Vladimir Poleto ex-assessor do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na prefeitura de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, acusado de ter transportado os dólares cubanos de Brasília para a capital paulista. Para incômodo da administração federal, a CPI dos Bingos entra nesta semana na discussão do envio de dólares de Cuba para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Na quinta-feira (10), ouvirá a socióloga Ivone Santana, que foi namorada do prefeito de Santo André, no Grande ABC (SP), Celso Daniel, e a ex-primeira-dama de Campinas, no interior do Estado, Roseana Morais, viúva do prefeito Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT, assassinado em 2001.