Brasília (AE) – A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos pedirá a ajuda do Ministério Público (MP) e da Polícia Federal (PF) para rastrear notas fiscais e boletos que comprovariam o pagamento de material das campanhas do PT de 2000 e 2002 pelo Grupo Leão Leão. A decisão foi tomada após os depoimentos contraditórios do ex-gerente-financeiro da gráfica Villimpress Luciano Maglia e do diretor-superintendente do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), Donizete Rosa.
Maglia repetiu na comissão a denúncia feita ao MP de que a gráfica cobrava do Leão Leão, em valores superfaturados, o material eleitoral feito para o PT, como santinhos, cartazes e faixas. Ele citou o nome de cinco bancos com agências em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, aonde as duplicatas do Leão Leão eram descontadas ou caucionadas. O fato teria ocorrido durante a gestão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na prefeitura.
O ex-gerente-financeiro da Villimpress disse que as operações eram acertadas entre o dono da gráfica, Vilibaldo Faustino Júnior, e os assessores de Palocci Rosa e Juscelino Dourado. Maglia disse ter ouvido eles acertando que o dinheiro superfaturado seria aplicado na compra de dólares para o partido. Rosa classificou a denúncia de "fantasiosa, não corresponde à realidade". Ao depor em agosto, Dourado – então chefe de Gabinete do ministro da Fazenda – foi, igualmente, enfático, ao rebater a acusação. No dia seguinte, ele deixou o cargo, alegando motivos pessoais. O presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), lembrou que parte dessas notas deve estar em poder do MP, cabendo apenas requisitá-las.
Senadores aliados do governo optaram por desqualificar as palavras do ex-gerente-financeiro, alegando que ele foi demitido da Villimpress por justa causa por ter dado um desfalque de R$ 4 milhões e que teria sido condenado pela Justiça. Maglia negou a acusação. Ele entregou à comissão a agenda telefônica que usava no estabelecimento gráfico. Além dos números de colegas de trabalho, de gerentes e atendentes de instituições financeiras, aparecem os de "Juscelino Palocci", "Donizete Rosa" e os de "Palocci", com prefixo de São Paulo. No testemunho, o diretor-superintendente do Serpro afirmou que o ex-secretário de Governo da prefeitura Rogério Tadeu Buratti mentiu quando denunciou ao MP e à CPI o "mensalão" de R$ 50 mil que o Leão Leão entregaria ao assessor Ralf Barquette para que ele passasse o dinheiro ao ex-secretário nacional de Finanças e Planejamento da legenda Delúbio Soares.
Rosa alegou que Buratti fez isso para escapar da prisão, que, supõe, será decretada contra ex e atuais diretores do Leão Leão. "Ele mentiu, talvez, para obter a delação premiada", alegou. O diretor-superintendente disse ainda não saber se continua amigo do ex-secretário de Governo da prefeitura de Ribeirão Preto e de outros nomes envolvidos em denúncias. "Há indícios que o relacionamento (com Buratti) era muito mais estreito do que agora. Aliás, o sr. é um homem sem amigos, nega todos eles", ironizou o relator Garibaldi Alves (PMDB-RN).
Rosa emocionou-se, ao ser elogiado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Ao agradecer, ele engasgou a fala, deixando escapar algumas lágrimas. Rosa também negou envolvimento no suposto esquema de extorsão da multinacional Gtech do Brasil. Sobre as 21 chamadas telefônicas que fez, apenas pela operadora TIM, para Buratti no período de renovação do contrato das loterias da Caixa Econômica Federal (CEF) com a Gtech, disse que conversaram apenas sobre "coisas pessoais". Após o depoimento, a comissão mostrou quatro cheques nominais ao secretário de Governo de Sertãozinho (SP), José Aprígio Baptista, no valor de R$ 29 mil, emitidos pelo Leão Leão, de fevereiro a maio de 2003. Alves disse que os cheques comprovam que Buratti falou a verdade quando denunciou que a empresa pagava mesada em troca de favorecimento nas licitações da coleta do lixo, como ocorreu em Ribeirão Preto, em favor do PT.
