Brasília (AE) – O advogado Rogério Buratti pediu à CPI dos Bingos para adiar para a próxima semana o seu depoimento previsto para amanhã (24), sob o pretexto de que está muito debilitado, física e psicologicamente. O pedido, apresentado pelo advogado Roberto Telhada, foi negado pela comissão, que não se convenceu dos argumentos, segundo informou o relator, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN). "Ele alegou que estava com trauma da prisão e dos desdobramentos das revelações que fez em troca dos benefícios da delação premiada", explicou.
O relator avisou a Telhada que o depoimento deve ser tomado no máximo na quinta, para não retardar os trabalhos da comissão. "Se ele insistir no adiamento, vamos mandar uma junta médica avaliar seu estado de saúde e, se for o caso, trazê-lo sob coação", disse o relator. Buratti foi secretário da Prefeitura de Ribeirão Preto no início da década de 1990, quando era prefeito o atual ministro da Fazenda, Antônio Palocci.
Desaparecido desde que foi libertado da prisão, na última sexta-feira, em Ribeirão Preto, Buratti só foi localizado hoje pela Polícia Federal, após delicada negociação com o advogado dele. Na semana passada, Telhada ameaçou rescindir o contrato depois que cliente aceitou o acordo de delação premiada e, sem seu aval, deu depoimento bombástico ao Ministério Público no qual acusa Palocci de ter recebido propina de R$ 50 mil mensais de uma empresa quando era prefeito.
A revelação causou tumultos na economia e a situação só se acalmou depois que Palocci fez um pronunciamento à Nação no último domingo, no qual rebateu a denúncia.
Curiosamente, o ministro poupou o ex-assessor e atribuiu seu gesto a um ato de desespero. Contatado pela PF, Telhada alegou que ainda estava propenso a deixar o caso e a princípio não quis colaborar com as buscas. Só depois de alguma insistência concordou em dizer onde o cliente se encontrava.
A PF cercou imediatamente a clínica onde Buratti fazia exames, em São Paulo, e desde a tarde de hoje mantém vigilância sobre ele. Investigado pela CPI dos Bingos e indiciado em inquérito que apura fraudes em licitações para coleta de lixo em municípios do interior paulista governados pelo PT, Buratti está impedido de deixar o Brasil e é obrigado a comunicar às autoridades qualquer deslocamento no País.
Depois de deixar a prisão, ele foi para Belo Horizonte, onde mora atualmente, mas no fim de semana sumiu do circuito sem avisar a ninguém. Garibaldi acha que os cinco dias entre a libertação e o depoimento são suficientes para Buratti ter se recuperado de qualquer trauma psicológico.
O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o empresário Marcos Valério, personagens centrais do escândalo do ‘mensalão’, nunca adiaram depoimentos por mais de 48 horas, lembra o relator. Além disso, nem Buratti nem seu advogado entregaram atestado médico mostrando o tipo de enfermidade que o impede de depor.
Na CPI dos Bingos, Buratti vai ser questionado sobre sua participação na renovação de contrato entre a Caixa Econômica Federal e a multinacional Gtech para operação da rede de loterias do País. O contrato rendeu comissão de R$ 650 milhões à empresa. Indicado pelo ex-chefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz, para intermediar o contrato, Buratti teria cobrado uma comissão de R$ 6 milhões pelo serviço. Ele foi convocado pela CPI por ter dito, no depoimento em Ribeirão, que tentou obter o apoio de Palocci para fechar o negócio.
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