Apesar de as advogadas Libânia Catarina Fernandes Costa e Valéria Dammous terem negado qualquer envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC), os deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Armas, que as ouviu em audiência pública nesta quarta-feira (2), têm certeza de que elas serviram de "pombo-correio" da organização. Segundo a polícia, elas levaram ordens de um presídio a outro para a realização, em julho, das rebeliões e ataques da organização em São Paulo.
O presidente da comissão, deputado Moroni Torgan (PFL-CE), afirmou que o depoimento foi importante para identificar o modo de agir da facção criminosa. Ele acrescentou que o PCC seduz as pessoas que quer atrair para suas fileiras, seja por meio de relações amorosas, o que foi constatado nos dois depoimentos desta quarta-feira e no anterior, da advogada Adriana Pellini Pedro, ouvida em 11 de julho. Outras, continuou, podem ser atraídas pela promessa de dinheiro fácil.
Mensageiras
As advogadas foram presas no fim de junho, acusadas de visitarem diversos presídios, transmitindo as ordens dos líderes. Elas negaram todas as declarações dadas à polícia de São Paulo, nas quais admitiam suas vinculações com a facção criminosa e o fato de terem usado de suas prerrogativas de advogadas para passarem mensagens do crime. Ambas, porém, reconheceram que tiveram relações amorosas com presos.
Valéria se relacionou com Leonardo da Silva Fernandes, acusado de ser o chefe da área jurídica do PCC. Ela admitiu que a relação ocorreu no ano passado. De acordo com seu depoimento à polícia, a advogada passou a atuar para a organização no final de 2004.
Libânia, depois de falar com seu advogado, negou-se a fornecer o nome da pessoa com quem se relacionou e também a responder a quase todas as perguntas dos parlamentares. Ela apenas reconheceu que visitou um ex-preso que, afirmou, não teria relações com a organização.
Os dois depoimentos foram coincidentes em sua maior parte. Valéria e Libânia se declararam advogadas e disseram desconhecer que eventuais clientes fizessem parte do PCC. Ambas também asseguraram que o conteúdo de seus depoimentos à polícia não é verdadeiro e que farão sua defesa em juízo.
Destruição de presídios
Para o relator da CPI, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), as gravações feitas pela polícia no monitoramento dos celulares dos clientes e os documentos apreendidos com as advogadas provam o comprometimento. Pimenta citou até gravação feita com Valéria em que ela sugere ao cliente Anderson de Jesus Parro, o Moringa, que o PCC destrua as penitenciárias federais em construção.
A advogada Valéria nega que tenha servido de pombo-correio. Disse que conversava com clientes que lhe ligavam de celulares a partir dos presídios e até recebia missões de passar recados, mas não o fazia. Torgan questionou a advogada também sobre 113 gramas de maconha encontradas em sua casa. Na opinião do presidente, a droga é uma das formas da organização de pagar pelos serviços. A advogada alegou que a droga era de sua filha.
ONG
Pimenta também chamou a atenção para outro caminho de investigação que deve ser seguido – o da organização não-governamental Nova Ordem, apontada como a negociadora do PCC na primeira onda de ataques em São Paulo. Ele disse que as duas advogadas admitiram relações com a organização. Segundo Pimenta, cerca de 34 advogados estão sendo investigados, o que abre um novo caminho de apuração para a CPI. Os trabalhos da comissão foram prorrogados, nesta quarta-feira, por mais 60 dias, devendo ser concluídos até 5 de novembro.
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