A CPI do Apagão Aéreo pôs o PSDB e o Democratas (antigo PFL) em pé de guerra. Enquanto o DEM defende a criação de uma comissão de inquérito sobre o assunto no Senado, os tucanos acusam os democratas de tentar "roubar" a CPI, que nasceu pelo PSDB na Câmara. O governo trabalha para que a CPI seja instalada na Câmara, onde tem maioria folgada e, portanto, com maiores chances de controlar as investigações. Nesse aspecto, de circunscrição das investigações, a agenda do Planalto e de certo tucanato coincidem.
"Não me cabe julgar a iniciativa dos senadores, mas vejo que há senadores, inclusive da oposição, dizendo que não deve haver essa iniciativa por parte do Senado. Até porque os deputados de oposição da Câmara tiveram essa iniciativa primeiro. Então, creio que a oposição vai buscar se entender nesse ponto", afirmou o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), três dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter pedido aos líderes do governo para abortar a CPI do Apagão Aéreo no Senado.
A divisão da oposição é mais evidente na Câmara. O líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio (SP), pediu aos senadores tucanos para não apoiar a CPI no Senado. "Vejo muito interesse do DEM de tomar a CPI para eles. Essa CPI nasceu do esforço e compreensão da bancada do PSDB na Câmara", observou Pannunzio.
Até o momento, já há 29 assinaturas de senadores no requerimento de criação da CPI – são necessárias, no mínimo, 27 assinaturas. Apesar do apelo do líder tucano, o senador Papaleo Paes (PSDB-AP) fez questão de assinar o requerimento da CPI. "Ninguém me pediu para não assinar nada", afirmou Paes. "Vou apresentar o requerimento na quarta-feira", disse o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN). Até lá, ele esperar recolher mais seis novas assinaturas. "A CPI no Senado tem mais força. Mas não vou estabelecer um cabo de guerra", afirmou o democrata, ao lembrar que o DEM e o PSDB no Senado não têm divergências, como ocorre na Câmara.
O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), e o líder do partido na Câmara, Onyx Lorenzoni (RS), já deixaram claro ser favoráveis à instalação da CPI no Senado. Não descartam, inclusive, o funcionamento de duas comissões de inquérito sobre o mesmo tema concomitantemente. "A investigação no Senado é o bastante. Mas será que é o suficiente?", indagou Agripino Maia.
"Cabe aos senadores analisarem se é adequado ter duas CPIs ao mesmo tempo. A minha opinião é que não. Até porque acho que seria um esforço em dobro para fazer uma investigação que qualquer CPI ou qualquer organismo poderia fazer", argumentou o presidente Chinaglia. ele lembrou que, na Câmara, a instalação da CPI depende de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Para o senador Agripino Maia, o governo não mede esforços para tentar abafar a CPI do Apagão Aéreo e, por isso, desencadeou somente agora a operação furacão, que levou para a prisão 25 pessoas. "Por que não fizerem isso há um mês, há dois meses? Para desviar a atenção e ocupar o noticiário com outras notícias", disse o democrata.