Os compromissos de Lula são “programáticos, éticos, políticos e morais”. Por isso, quem duvidar, pagará para ver. Serão todos cumpridos. Mas se acontecer alguma coisa, os desatendidos que cobrem as promessas feitas. Em qualquer tempo e de qualquer campanha. Cobrem-nas de Lula e do seu ministério. De dia e à noite e, “por tabela, aproveitem para cobrar do governo do Estado, da Prefeitura e dos políticos”. Abaixo a covardia dos que prometem e, depois, não cumprem.
Isso mesmo. São conselhos do presidente Lula, ele próprio na oposição de seu governo, já acusado de “pagar com traição a quem lhe deu a mão”. Chapéu de couro de cabra na cabeça, em manga de camisa e caminhando sobre o leito de rio seco do Nordeste, ele tem uma certeza inabalável: foi eleito pelo povo pobre deste País e é para este povo pobre que canalizará a prioridade de sua política. Afinal, se a seca é um fenômeno da natureza, a fome, não. Ela traduz apenas a falta de vergonha dos homens que deveriam ter a responsabilidade de acabar com ela.
Quer saber mais? “Me transformei no sindicalista mais importante deste País, sem medo de cara feia, de direita e de esquerda.” Como todos, xinguei banqueiros, mas duvido que algum banqueiro não tenha ficado com medo de imaginar o Lula presidente. E lá cheguei. “Cheguei à Presidência para fazer coisas que precisavam ser feitas neste País e que muitos presidentes antes de mim foram covardes e não tiveram coragem de fazer.”
Quem, por exemplo? A começar pelo antecessor imediato, Fernando Henrique Cardoso engoliu em seco e não mordeu a isca. Covarde ele? Lá do exterior aconselhou avanços na área social pelo bem do Brasil e dos brasileiros – aqueles mesmos referidos pelo presidente messianicamente predestinado à salvação de nossos cafezais. Sarney nem tascou. “Não ponho a carapuça. Tenho certeza absoluta que Lula não estava pensando em mim.” E por qual motivo haveria de pensar? Ademais, as controvérsias existentes foram desfeitas no jantar da noite, onde o presidente, já refeito dos arroubos discursivos, foi ter com o presidente do Senado, prudente e matreiro.
Sobra quem, então? De morto não se fala. Estão fora, portanto, todos os militares de boa e má memória. Tancredo também se foi, levado por um ataque fulminante de diverticulite. Sobram dois. E é possível que aí esteja a ninhada de covardes – o outro Fernando, o Collor, e seu vice, Itamar Franco, hoje discretíssimo (à falta momentânea de outro adjetivo) embaixador do Brasil em Roma. Deles, não se teve notícia alguma de imediata reação. E quem cala – diz o ditado -, consente…
Esteja onde estiver a covardia, Lula não foi por nada prudente. A um presidente convém realizar mais que falar (que falem os outros!). Principalmente, convém não atacar para não ser atacado, às vezes, covardemente.
Enquanto Lula errava pela enésima vez, seu homem forte, José Dirceu, corria atrás de FHC para admitir seu exagero (e pedir desculpas por ele) ao mandá-lo cuidar dos netos, dos livros e das memórias. O ex-presidente não quer remoer. Só cobrava um pouquinho mais de imaginação do governo atual com relação aos programas sociais.
Nem este capítulo era concluído, e em Brasília o PFL emitia um documento chamado “A esperança por um tempo de menos impostos e mais empregos”. Além dos dez meses de “ineficiência e incompetência” (tempo de Lula no governo), o documento se referia a falhas sérias no aspecto ético – “situações que os eleitores jamais imaginariam que viessem a ocorrer num governo petista, dada a implacável indignação moralista que revelava antes de chegar ao poder”. Ora, há covardes e covardes. E cada um que fique com o covarde que quiser…