Poucos temas foram mais polêmicos nos últimos anos que a adoção do sistema de cotas nas universidades federais. Agora, há nova tentativa de alteração. Foi aprovada na Comissão de Educação do Senado Federal uma proposta que prevê que metade das vagas em universidades federais e instituições públicas de educação profissional e tecnológica serão reservadas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino fundamental em escolas públicas.
Mais dentro desta cota, teriam que ser respeitadas as vagas disponíveis para negros, pardos e índios, de forma proporcional à população de cada estado. E também para as pessoas portadoras de deficiência, independente de terem ou não passado pelo ensino público.
A proposta, caso não haja resistência no Senado (no mínimo nove senadores deveriam apresentar emendas ao projeto para que ele fosse para o plenário), segue direto para a Câmara, e tem o apoio total do governo federal tanto que tem a chancela da líder do PT na câmara alta, senadora Ideli Salvatti (PT).
Apesar do teor positivo da idéia, abre-se um caminho perigoso. Por mais que tenhamos a obrigação de agregar mais e mais jovens para o caminho do ensino superior, é temerário colocá-los lá apenas pela vontade, sem que haja merecimento. Em um mundo cada vez mais competitivo, colocaríamos jovens no mercado de trabalho por filantropia, e não por meritocracia.
Se o governo quer que a população de baixa renda tenha acesso às universidades federais, o que é muito justo, primeiro precisa corrigir as tremendas falhas no nosso sistema educacional. É como se fosse um dominó: melhorando nosso ensino básico e fundamental, iniciamos melhor a preparação dos estudantes; com isso, eles chegam mais capazes ao ensino médio, que também precisa de reforma; com o sistema regularizado, os alunos terão condições de enfrentarem os vestibulares sem a necessidade de se fazer valer as cotas.
Construir tal cenário demanda tempo, dinheiro e vontade política – não é só um governo que resolverá o problema, e é necessário que todos percebam a importância da educação. Tentar resolver criando cotas para universidades é, usando um velho clichê, tapar o sol com a peneira.