Brasília – A ampliação do debate sobre a escolha do padrão de TV digital criou um constrangimento ao ministro das Comunicações, Hélio Costa, que vinha coordenando sozinho todo o processo de análise dentro do governo. Costa deixou de representar o único interlocutor junto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros personagens foram integrados ao debate. O governo percebeu que a escolha não poderia ser tratada apenas como uma questão de decisão política e tecnológica, fechando-se os olhos para pontos tão importantes como as possibilidades de expansão comercial do Brasil no setor.
Essa percepção ganhou força quando se constatou que a explícita preferência de Costa pelo modelo japonês, ímpeto contido com a criação do comitê de ministros, com a participação de Costa, Dilma, Antonio Palocci (Fazenda) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento). O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), teve também sua participação ao patrocinar um amplo debate, no plenário da Casa, para permitir que os mais diversos segmentos envolvidos na definição do padrão digital também tivessem condições de explicitar suas posições.
A insatisfação de Costa com a mudança de rumos começou a ser demonstrada na primeira reunião do comitê, na semana passada, com a comissária européia para a Sociedade da Informação e Mídia Viviane Reding, interlocutora do padrão europeu. Segundo fontes do setor, ele teria mostrado irritação durante o encontro com dados apresentados por ela.
Na quarta-feira, em reunião com as empresas de telefonia fixa, segundo relatos, Costa teria sustentado uma "cara amarrada". Ele teria questionado, com rispidez, o interesse das empresas de telefonia pela TV Digital: "Que diferença faz para vocês, vocês são fixos?" O ministro chegou a dizer aos empresários que eles poderiam perceber uma certa agressividade nele, mas que, como senador, ele teria de ser agressivo para enfrentar o debate no Parlamento.
No mesmo dia, Costa chamou o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab, de "desagradável" e "mal-educado", quando ficou sabendo que Saab havia criticado a condução do processo de escolha da TV digital. A indisposição gerou "faíscas" no início da reunião de hoje (10) com a indústria. Desde quarta-feira, o ministro se auto impôs o silêncio. Falou pouco nas reuniões do comitê e cancelou duas entrevistas e a participação em um seminário.
Ele teve um tom "disciplinado" na reunião de quinta-feira à noite com os representantes das empresas de telefonia celular. "Foi a ministra Dilma quem deu o ritmo na reunião", relatou um participante. Hoje, Costa desmarcou uma entrevista coletiva, mas sua assessoria atribuiu a decisão a "excesso de agenda" e não a uma orientação do Planalto para que o ministro adotasse uma postura menos severa ao comentar a definição do novo padrão digital para o País.