Brasília (AE) – Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, o ex-deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP) retificou o que tinha dito na véspera à CPI do Mensalão sobre a origem do dinheiro que recebera do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. À CPI, Costa Neto afirmou que 80% dos recursos teriam vindo da agência de publicidade SMP&B, do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. O ex-deputado disse desconhecer a origem dos 20% restantes, pois eles teriam sido pagos em dinheiro vivo. Hoje Valdemar se corrigiu: "Todo o dinheiro foi da SMP&B. Os R$ 6,5 milhões que pagaram para mim vieram da SMP&B".
O presidente do PL tentou explicar por que demorou a explicar a origem do dinheiro recebido por seu partido: "Não sou delator. Quando precisava do dinheiro para pagar as contas de campanha que assumi, eu procurava o Delúbio (Soares, ex-tesoureiro do PT). Não quis partir na frente. Esperei que ele (Delúbio) tomasse essa iniciativa." O relator do processo de cassação de Jefferson, deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), vai apresentar amanhã a primeira parte de seu parecer.
Na segunda-feira, Carneiro entrega a conclusão do seu relatório com seu voto a favor ou contra a cassação. O julgamento, no entanto, poderá ficar para quinta-feira da próxima semana, caso haja pedido de vista.
O Conselho de Ética agiu rápido hoje para evitar que Jefferson aproveitasse de uma brecha legal para tentar anular o processo de cassação de seu mandato parlamentar. Costa Neto, autor da representação contra Jefferson, foi às pressas depor ao conselho, depois de a sessão já ter sido cancelada, para cumprir ritos processuais de confirmar sua intenção de continuar com o pedido de cassação contra Jefferson.
O presidente do conselho, deputado Ricardo Izar (PTB-SP) já havia dispensado o depoimento quando foi alertado pela assessoria jurídica da necessidade do comparecimento de Valdemar que precisaria ser questionado pela defesa de Jefferson. Além disso, Valdemar teria de confirmar o depoimento prestado na véspera à CPI do Mensalão. A gravação em vídeo do depoimento de Valdemar já havia sido encaminhada ao conselho pela manhã, mas se os ritos do Código de Processo Penal não fossem cumpridos, os advogados de Jefferson poderiam recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF), no caso de cassação.
O conselho enfrentou hoje outro contratempo. Sem ser convidada e provocando constrangimentos, a ex-mulher de Valdemar decidiu participar da reunião para entregar o convite do almoço em que esteve com Costa Neto, em Taiwan. Maria Cristina Mendes Caldeira chegou puxando uma mala de rodinhas e protagonizou um tumulto na sessão. Arrumando os cabelos e posando para os fotógrafos, ela insistia em entregar pessoalmente o documento a Izar. "Eu posso ir lá em cima no palco?", queria saber Maria Cristina, referindo-se à Mesa dos trabalhos. Izar vetou e foi buscar o papel das mãos da ex-mulher de Valdemar sentada na bancada reservada aos deputados no fundo da sala.
"Ela veio de maneira desnecessária. Eu não quis banalizar a sessão. Fui lá e peguei o convite e nem agradeci. Talvez o que ela quisesse fosse promover o programa de TV dela", criticou Izar. Mais tarde, ele impediu, por meio da segurança, a presença de Maria Cristina na sala enquanto Valdemar prestava depoimento. Àquela altura, ela já havia distribuído aos membros do conselho camisetas de uma ONG Bem Querer, de defesa da mulher da qual ela diz ser imperatriz.
"Minha mala não tem mensalão, só tem camisetas", repetia. Em depoimento anteriormente prestado no conselho, a ex-mulher de Valdemar afirmou que na viagem a Taiwan o presidente do PL teria ido buscar recursos para campanha eleitoral. Valdemar nega.
Em seu depoimento, o presidente do PL confirmou que esteve com a ex-mulher no almoço. Mas, de acordo com Valdemar, durante a viagem, Maria Cristina ficava fazendo tour e não atuou como sua tradutora. "Em Taiwan se fala chinês, não inglês", disse o presidente do PL, completando que, durante a viagem, se fez acompanhar de um tradutor que falava chinês.