Corte de ponto do BB e CEF embute cálculo eleitoral, diz analista

O corte de ponto dos grevistas do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal embute “um cálculo eleitoral” do governo Lula, segundo a cientista política Lourdes Sola, da MB Associados. Ela acredita que, se o governo não enquadrasse os bancários em greve dos bancos públicos, poderia ter um custo eleitoral. “O custo da penalização do movimento sindical é menor do que o custo eleitoral caso não enquadrasse”, afirmou Sola.

Ao justificar a decisão, o governo citou, entre outras razões para o corte, as conseqüências da paralisação para aposentados e beneficiários do Bolsa Família. “Se não enquadrasse, (o governo) perderia o apoio da população”, acrescentou a cientista política.

Para ela, o PT fez uma opção de curto prazo, de olho nas eleições, já que poderá compensar, a médio e longo prazos, o desgaste que terá junto aos sindicalistas. “É mais uma frustração”, disse Sola, referindo-se à decepção de determinados setores que apoiaram historicamente o PT. “Não dá mais para o PT dizer que essa política econômica é provisória. O PT está administrando o capitalismo e vai ter de se convencer disso.”

A cientista política lembrou de outros momentos de frustração – ao longo de 2003 e deste ano -para aqueles que esperavam outra postura do PT. Ela citou, por exemplo, o reajuste do salário mínimo e do funcionalismo público no ano passado, além da adoção de uma política econômica mais ortodoxa do que a esperada.

Para analista político Christopher Garman, da Tendências Consultores, ao determinar o corte do ponto dos bancários em greve do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, o governo Lula dá uma demonstração de “capacidade e firmeza” de assumir os interesses do Poder Execut ivo.

“O fato do presidente da República e do PT terem raízes sindicais não impossibilita a capacidade do governo de tomar posições difíceis”, afirmou Garman.

Na opinião do analista, o corte do ponto dos bancários é coerente e dá continuidade a decisões que começaram no primeiro ano do governo Lula. Ele lembrou que, para atingir o aperto fiscal, o reajuste dos servidores públicos foi “arrochado”, ficando abaixo da média dos oito anos do governo FHC. Garman disse que, neste ano, houve reversão, com reajuste maior, não linear, para o funcionalismo, o que demonstraria um “equilíbrio tênue” da relação.

O analista ponderou ainda que o presidente Lula tem raízes no sindicalismo do setor privado, não público, onde o corte de ponto de grevistas é um instrumento comumente utilizado pelo patronato. “Não faz parte da cultura dele este privilégio – de não ter o ponto cortado”, afirmou. “Se ele tivesse essa raiz, talvez o comportamento de Lula fosse diferente”, acrescentou.

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