Os médicos quando falam em câncer chamam de metástase a generalização da doença. Significa invariavelmente, ou quase, a morte do paciente. O médico e poeta Pedro Nava, que foi amigo de Juscelino Kubitschek, escreveu um livro que se tornou famoso: As amargas, não. Nele, pretendeu só colocar lembranças boas e excluir, de propósito, as amargas.

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Num exercício intelectual sem dúvida artificial, o que não o exime de apontar caminhos verdadeiros, poderíamos dizer que nos dias atuais, se Pedro Nava quisesse escrever seu livro de poesias abordando a vida pública brasileira, conseguiria no máximo um minguado folheto. Ou nem o escreveria, pois na nossa política hodierna só temos conhecido as amargas. E, aproveitando a deixa de que Nava era médico, nos vem a idéia da metástase para chegar à fantasiosa idéia, porém nem por isto longe da verdade, de que os males da política brasileira atual estão em estado de metástase.

O ditado popular diz que ?onde há fumaça, há fogo? e, embora tenhamos de imaginar que pode haver um certo denuncismo, será pretensão exagerada achar que as maracutaias que são denunciadas resultam de uma irresponsável onda de fofocas atingindo um número considerável de inocentes. A probabilidade maior é que a maioria dos indigitados seja culpada e se a gente der um tiro a esmo a possibilidade de acertar um corrupto é muito grande. Grande em razão da lei das probabilidades, pois eles são uma gigantesca manada a pisotear as esperanças e necessidades do povo, pondo a mão em tudo o que possa significar privilégios ou dinheiro para seus bolsos.

É uma questão de cultura, diriam alguns cientistas políticos. Há no Brasil uma cultura de levar vantagem em tudo e um imenso coração de mãe pronto a tudo perdoar. Não há dia em que, abrindo jornais, revistas, ouvindo o rádio ou assistindo à televisão, não sejam vistas novas denúncias. E são raras, ou até inexistentes, as notícias de que alguém por isso é punido, a menos que seja um pobre diabo a roubar para matar a fome e tomar, no exercício arbitrário dos próprios direitos, o que lhe deveria caber num país dito rico, mas que na verdade é dos ricos e principalmente dos espertos.

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A corrupção já provada atingiu de cima em baixo o sistema eleitoral e o partidário. Descobriram caixas 2, mensalões, confusão entre recursos públicos e privados e houve a cara-de-pau de dar conotação ideológica a essa salada de interesses, para justificá-la. Há corrupção no Poder Executivo, no Legislativo, no Judiciário, nos estados, municípios, nas empresas públicas e nas relações das empresas privadas com o poder público. Quanta corrupção, não sabemos. E não sabemos porque há demais e não porque está escondida.

Os que assim agindo mofam dos legítimos interesses do povo e usam e abusam do poder em benefício próprio, na hora em que pensávamos que alguma punição receberiam, fazem acordões ou grandes pizzas e vence o espírito de corpo. Organizam-se para perdoar-se mutuamente.

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A última denúncia vem do Tribunal de Contas da União, que descobre um superfaturamento de R$ 10 milhões em negócios da Furnas Centrais Elétricas, beneficiando dois filhos de um ex-diretor da estatal.

A tendência generalizada da sociedade é não mais votar, para não ser conivente com tanta vergonha. Mas a solução é continuar votando e denunciando, pois a esperança é a última que morre. Certo que morreremos primeiro.