Um País devastado pela desonestidade e corrupção ativa e passiva. Um quadro alarmante de fraudes abertas contra a ordem fazendária e de escárnio ao arcabouço legal, cuja complexidade abarca as mais comezinhas atividades da vida, mas se revela impotente para conter a voracidade dos modernos sucessores de sir Francis Drake, o temível salteador inglês galgado à nobreza pelos excelentes serviços de pilhagem prestados à coroa inglesa.
Em pouco mais de quatro anos de atividade criminosa, imensa quadrilha dedicada ao contrabando, ramificada em oito estados e em Miami, movimentou cerca de US$ 1,1 bilhão e sonegou pelo menos US$ 500 milhões, além de impedir a abertura de 20 mil empregos. A Polícia Federal mais uma vez demonstrou sua competência e desmontou a gigantesca engrenagem depois de dois anos de investigações centralizadas em São Paulo pelo delegado Paulo Víbrio, de Paranaguá, na sintomática Operação Dilúvio.
Marco Antônio Mansur e seu filho eram os mentores do grupo que agia em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Bahia, Pernambuco, Ceará e Espírito Santo, contrabandeando aparelhos eletrônicos, equipamentos de informática, ortopedia, alimentos, roupas e até carros. A fachada era oferecida por dezenas de empresas de importação ?laranja?, mediante as quais os produtos entravam no Brasil, em média, pela metade do preço real.
A PF prendeu em Curitiba alguns componentes do esquema fraudulento, um deles na posse de R$ 600 mil em moeda nacional, além de grande quantia em dólares e euros. Nos próximos dias serão conhecidas as empresas participantes e as que comercializaram as mercadorias entradas ilegalmente no País, entre elas a afamada boutique Daslu, sobejamente conhecida nos meandros policiais por recente performance alheia à especialidade de vender badulaques a preços de Ferraris.
Rapina elevada à enésima potência, paixão pela conduta criminosa e amor ao interdito são elementos que desafiam a psicologia, todavia entranhados no caráter de homens vizinhos da bestialidade.
