Correios contra consumidor

O ministro das Comunicações, Miro Teixeira, subiu num caminhão de som em Brasília para apoiar os funcionários grevistas da Empresa de Correios e Telégrafos – subordinados seus – em campanha por aumento salarial. Não só apoiou a greve, como concitou os reclamantes a resistir às tentativas de quebra de monopólio e de privatização. Conta a crônica que seu ato foi espontâneo e, seguindo seu estilo, Teixeira falou de forma inflamada ao lado do radical João Batista de Araújo, o Babá, em vias de expulsão do PT.

“Se Deus quiser – finalizou o ministro, bom patrão com recursos públicos – vamos ter bom senso e chegar a um acordo, de tal maneira que o trabalhador avance, e os sindicatos consigam ter os ganhos que são inerentes à própria representação e que o governo demonstre na prática o que é democracia.” Saiu aplaudido, amém.

No palanque, Miro Teixeira não fez nenhuma referência ao aumento de tarifas que a ECT acaba de decretar, sem aviso público algum. O aumento não foi pequeno. Teve item que subiu mais de 270%, como é o caso do disco contendo os CEPs de todo o Brasil (pulou de R$ 2,00 para R$ 7,50). A elevação surpreendeu (e revoltou) os próprios funcionários em campanha por aumento salarial. Afinal, eles também são consumidores.

Para dissimular a violência do reajuste, a ECT, como vem acontecendo ultimamente, não sobe linearmente suas tarifas. A elevação, normalmente, se dá mais pela “readequação” das tabelas ou mudança de alguns critérios, como peso e destinação. Uma carta comercial (a mais simples, com até 20 gramas), saltou de R$ 0,60 para R$ 0,74 – um aumento ponderável, superior a 23%. Graças a essa artimanha, um impresso normal, com peso situado entre 50 e 100 gramas, que há pouco mais de dois anos custava R$ 0,39, está hoje custando R$ 1,15. Existem os contratos especiais, que acabam barateando um pouco a tarifa, mas a empresa não faz questão de pequenos consumidores: há limites mínimos que, não alcançados, obrigam os usuários a pagar por serviços não utilizados (coisa de R$ 2.000,00 para R$ 11.000,00)!

Como defender o monopólio dos Correios numa situação como essa? Existem empresas em Curitiba que se ocupam da distribuição de grandes quantidades de impressos, jornais e revistas, que realizam entregas por R$ 0,30 a unidade. A mesma que os Correios passaram a cobrar R$ 1,15. E, sem exigência de mínimos e máximos, ainda dá o retorno dos endereços errados ou não encontrados (a famosa “devolução garantida” que os Correios não garantem numa correspondência simples). Tais empresas, entretanto, não ostentam sedes nababescas, revestidas de granito e outras mordomias. Nem têm seus veículos a serviço do tráfico de drogas e armas do Paraguai, como aconteceu recentemente, para escândalo nacional, com um caminhão do correio, pilotado por um funcionário (traficante) seu…

O ministro Miro Teixeira poderia ter se poupado dessa malsinada oportunidade de exposição. Se ficou bem com os funcionários da casa, seus subordinados, deu-se mal com os usuários de todo o Brasil. Estes, quando vão aos Correios preferem enviar cartas, telegramas, encomendas, não realizar empréstimos ou outras operações bancárias. Na busca de lucro, os Correios diversificaram tanto seus serviços que em alguns casos já se parecem com bancos até na fleugma do atendimento prestado. Atrás dos guichês eletrônicos em duplicata que não funcionam (a chamada do “próximo!” continua sendo verbal) são, geralmente, poucos os atendentes para filas de usuários desesperados com a demora de sempre.

Se não quiser perder o status de monopólio, defendido com argumentos nem sempre convincentes, como fez o ministro, a direção dos Correios deve se esforçar mais pela prestação de melhores serviços. E mais baratos. Uma teia de empresas privadas, já operante em níveis interestaduais, se fortalece no vácuo dos preços e maus serviços da estatal. Ainda bem.

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