Como diria o Barão de Itararé, há mais coisas no ar além dos urubus e aviões de carreira. E com o dito sarcástico do humorista Aparício Torelly, também nascido no Rio Grande do Sul, haverá de concordar o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que acaba de desdizer, seis meses depois, praticamente todas as correções prescritas para a aviação brasileira, na época, adornadas por um bem calculado plano de marketing.
Já se sabia e hoje está plenamente confirmado que o principal escopo das encenações que tinham Nelson Jobim como protagonista – com um capacete de bombeiro, envergando a farda camuflada do Exército, posando abraçado a onças ou enrolado numa sucuri – era apresentar o novo ministro como um autêntico super-homem vindo à terra para sustar a derrocada do sistema comercial de aviação no País.
Na solenidade de posse do novo ministro, a imagem sem retoques do fracasso administrativo era oferecida pelo substituído Waldir Pires, cuja fisionomia abatida denunciava o execrável abandono a que fora relegado por um governo que servira com extrema lealdade.
A imagem acabrunhada de Pires, uma das figuras mais dignas da República, além de contrariar a hilaridade estentórea do presidente Lula, servia como pano de fundo totalmente inadequado para uma platéia consciente de ali estar apenas para cumprir a função de aplaudir a vacuidade discursiva dos salvadores da pátria.
Bastaram seis meses para o ministro Nelson Jobim vir a público para doutrinar que o Aeroporto de Congonhas, onde a crise da aviação se transformou em tragédia com a morte de 199 pessoas no acidente com a aeronave da TAM, voltará a ser ponto de distribuição de vôos para todo o território nacional, com a suspensão da medida tomada logo depois do acidente.
A terceira pista do Aeroporto de Cumbica (Guarulhos) também foi arquivada e os planos de remodelação de Viracopos (Campinas) ficarão restritos a alguns reparos cosméticos. Para que ninguém ouse afirmar que o ministro perdeu o dinamismo eletrizante das primeiras semanas (ou, bem mais grave, o apoio logístico do governo), sua excelência se deixou convencer que a solução é construir o terceiro aeroporto paulista, como queria a ministra Dilma Rousseff.
A memória nos lembra a segurança com que Jobim implodiu a sugestão já no discurso de posse. Pode ser impertinente, mas também é instrutivo saber do ministro se a crise aérea foi motivada apenas pelo despreparo dos diretores da Anac, a quem ele tratou como réprobos.