Reunido, o PT de José Dirceu venceu a ala ortodoxa do partido e resolveu adiar, ou fazer corpo mole, nos processos de investigação e punição de seus cassáveis. Cassáveis como dirigentes do partido e como parlamentares.
Há desde a formação do governo Lula dois PTs claramente distintos. O dos ortodoxos, fundadores do partido que sempre foram fiéis à pregação socialista, de esquerda, e contra a política econômica que era adotada pelo governo FHC e que tem os aplausos e a ajuda decidida do Fundo Monetário Internacional. O mesmo FMI contra o qual, em praça pública, gritavam com todas as forças: ?Fora!?. E que pratica a mesma política que sempre acusou de entreguista, contrária aos interesses nacionais e à solução dos problemas sociais do Brasil. O PT que exigia ?fora FHC? e ?moratória já?.
Antes das eleições, esse PT era aparentemente um partido só, formado por um conjunto harmônico de esquerdistas relativamente radicais. Para serem totalmente radicais, faltava apenas pregarem a revolução. Mas aceitavam o processo democrático de eleições. À época, havia uma voz uníssona. Agora, no poder, há dois PTs. O dos que continuam ortodoxos e fiéis ao que pregavam, tanto em matéria econômica quanto de política social, e os que assumiram o governo com Lula. Estes mudaram de ideologia, dividindo o poder com agremiações políticas de pensamentos contrários aos seus e métodos e ética duvidosos e incompatíveis com os que se atribuíam os petistas. As bases do governo viraram uma salada mista maltemperada. Abandonaram a ideologia que pregavam e a ética da qual diziam orgulhar-se. Só não abandonaram seus programas, pois ficou provado que não tinham nenhum.
O partido manteve, entretanto, alguns vezos de agremiação de esquerda. Exemplo: a disciplina, a apropriação do duvidoso direito de mandar no governo. Foi por isso que petistas autênticos e históricos, como Heloísa Helena, Babá e até a deputada filha do presidente-interventor do partido nos dias de hoje, Tarso Genro, foram tratados com o maior rigor e expulsos. Defenestrados por defenderem os interesses dos trabalhadores e seguirem a pregação do PT na reforma da Previdência, negando-se a votar contra os trabalhadores e aposentados.
O grupo que aderiu à política neoliberal, às linhas do FMI e às práticas antiéticas praticadas por agremiações políticas, desde sempre, acaba de provar que manda no partido. Em reunião do diretório nacional, todos os processos de punições, de investigações e cassações dos que comprometeram o bom nome do partido foram postergados. Adotou-se a política do corpo mole. Até um Delúbio Soares, dentro do partido o principal instrumento das maracutaias e do caixa 2, afastou-se da tesouraria por vontade própria. Não foi desligado. Desligou-se.
O resultado está sendo a debandada. Além dos parlamentares já expulsos e que formaram uma nova legenda, já há uma dissidência de mais de vinte parlamentares da ala ortodoxa, que não obedecerão mais as ?diretrizes? da cúpula dominante. E, agora, até um ex-ministro, o senador Cristovam Buarque, que foi governador do Distrito Federal, ameaça o PT de sair atirando.
Hoje temos claramente dois PTs. Logo, é possível que não tenhamos nenhum.