O corpo do brasileiro Jean Charles de Menezes, de 27 anos, morto por agentes da Scotland Yard em Londres na sexta-feira, foi liberado hoje (26) à tarde pelas autoridades britânicas. O corpo seguirá no vôo 8757 da Varig, que sai do aeroporto de Heathrow, às 22 horas de amanhã, e deve chegar ao Brasil por volta das 5 horas de quinta-feira. Do aeroporto de Guarulhos, ele será transportado para Belho Horizonte.
As despesas com o transporte serão pagas pelo governo britânico.
Até a noite de hoje, ainda não estava definido como o corpo seria levado para Governador Valadares, em Minas Gerais, cidade próxima a Gonzaga, município onde moram os pais de Menezes. A liberação foi agilizada a pedido de familiares que, após receber o atestado de óbito, desistiram de solicitar uma segunda autópsia, como haviam cogitado antes. O cônsul-geral do Brasil, Fernando Mello Barreto, disse que a liberação do corpo do brasileiro era prioritária. O irmão de Menezes, Giovani, pediu ao chanceler que o corpo seguisse para o Brasil com urgência.
Barreto disse que a liberação foi rápida levando-se em consideração os prazos legais no Reino Unido e que, em casos como este, o processo pode demorar até mais de uma semana. A decisão da família de Menezes de não solicitar uma segunda autópsia e a forte pressão do governo brasileiro ajudaram a agilizar o processo.
O transporte do corpo será acompanhado por pelo menos um diplomata brasileiro e por alguns familiares da vítima que moram em Londres. Eles aguardavam uma resposta da companhia aérea, pois o vôo estava lotado.
Os primos da vítima, Alex Alvez Ribeiro, Vivian Menezes e Patrícia Armani, disseram que gostariam de estar no Brasil para o enterro.
As circunstâncias do crime ainda são desconhecidas e continuam circulando especulações contraditórias.
Ao certo, sabe-se apenas que os policiais britânicos dispararam oito tiros contra ele, sete na cabeça e um no ombro. Mas as investigações sobre a morte de Menezes, pela Comissão Independente de Reclamações sobre a Polícia, devem demorar meses para serem concluídas. Evidências, como as fitas do circuito interno da estação de metrô de Stockwell, onde Menezes foi morto que podem revelar detalhes sobre a ação policial e a morte da vítima, somente deverão ser divulgadas após o fim das investigações.
O inquérito, aberto na segunda-feira na Southwark Coroner Court, também só poderá ser concluído com o fim das investigações da Comissão.
Os dois processos são independentes. O inquérito apura as circunstâncias do incidente.
Já as investigações da Comissão apontarão os responsáveis e se cabe uma ação criminal contra eles na Procuradoria Geral.
Um dos pontos mais polêmicos diz respeito à situação legal do brasileiro em Londres. Hoje, uma porta-voz do ministério do Interior da Grã-Bretanha disse à Agência Estado que ainda não há uma posição oficial sobre a situação do visto de imigração do brasileiro. "Estamos avaliando o caso de Menezes e ainda não temos nada a declarar sobre o assunto", disse a porta-voz.
Fontes diplomáticas brasileiras reafirmaram as declarações feitas pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que disse que o consulado brasileiro havia sido informado pelas autoridades britânicas de que a situação de Menezes era legal. Apesar disso e do ministro das Relações Exteriores britânico, Jack Straw, ter afirmado que, no seu entender, o brasileiro, estava legalmente no país, o tema continua gerando alguma polêmica. Straw havia dito que o tema é da responsabilidade do Ministério do Interior.
Os pais de Menezes devem ser indenizados pelo governo da Grã-Bretanha, já que a polícia britânica assumiu o erro, o que implicaria automaticamente em uma compensação financeira aos familiares da vítima.
Ainda não se sabe, porém, se a família tomará outras providências legais contra as autoridades britânicas.
Policiais da Scotland Yard designados para prestar assistência aos familiares de Menezes, em Londres, e que faziam a ponte entre eles e a polícia britânica, deixaram a função, hoje. Eles informaram que o contato com os primos de Menezes, em Londres, inclusive para a polícia, estava sendo transferido para as mãos da advogada Gareth Peirce. Os primos da vítima Alex, Alessandro e Patrícia, passaram toda a tarde de hoje e o início da noite reunidos com a advogada em seu escritório, em Candem Town, Norte de Londres. Alex e Alessandro chegaram ao escritório por volta de 13 horas e saíram de lá às 21 horas, acompanhados por Gareth. O caso, que monopolizou a atenção dos britânicos até segunda-feira, foi muito pouco abordado pela imprensa do país hoje.