O corpo do índio guarani-caiová Marcos Veron, de 72 anos, foi enterrado hoje, ao meio-dia, dentro Fazenda Brasília do Sul, em uma área que seus seguidores chamam de Aldeia Taquara, no município de Juti, no sul de Mato Grosso do Sul, a 280 quilômetros de Campo Grande. O líder indígena morreu após comandar a invasão dessa propriedade, no sábado, com 80 índios. Na madrugada de segunda-feira ele foi espancado e morreu oito horas depois de ser internado no Hospital Evangélico, na cidade de Dourados.
Embora as autoridades estivessem preocupadas com novo conflito durante o enterro, não houve problemas. O cortejo percorreu 40 km até o local, a partir do acampamento montado há um ano na periferia de Dourados, nas margens da rodovia MS-116, onde Veron foi velado. Oito carros da Polícia Federal (PF) o acompanharam. Os procuradores da República Charles Stevan da Motta Pessoa e Ramiro Rockenbach da Silva também acompanharam de perto o sepultamento.
A PF continua investigando o caso, mas até hoje não tinha identificado os culpados. Os índios continuam acusando os empregados da fazenda pela morte de Veron, mas eles negam envolvimento no crime.
Conflitos e suicídios
Há 11 áreas agrícolas que são palco de conflitos entre índios e fazendeiros no sul do Estado. As dificuldades entre os povos indígenas vêm provocando situações dramáticas, apontadas até mesmo como um dos motivos do crescente número de suicídios entre índios – esse índice foi 26% maior no ano passado do que o registrado em 2001 em Mato Grosso do Sul. A informação é de Nelson Carmelo Olazar, chefe do setor operacional da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) no Estado. Segundo ele, foram 42 suicídios em 2001, ante 53 em 2002.
Olazar informou também que a Funasa contratou o antropólogo Miguel Foti para apurar as causas do aumento de suicídios, principalmente entre os guaranis-caiovás. Entre os 45 mil índios que vivem em aldeias em MS, 29 mil são guaranis-caiovás.
No ano passado, os maiores números de suicídios de índios ocorreram nas aldeias do município de Amambaí: 21 casos; Caarapó, 8 casos; Antônio João, 4; e Iguatemi, 3. Dos 53 casos em 2002, 34 das vítimas tinham menos que 20 anos.